segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Pós-plebiscito

Ontem o povo do Pará foi às urnas e decidiu em plebiscito pela não divisão do Estado! Meu voto também foi nesse sentido, mas, passada a eleição, devemos ponderar sobre alguns fatores. Considero justa e legítima a vontade do POVO das regiões separatistas, posto que tais regiões estão abandonadas pelo poder público. Entretanto, não vejo a divisão como solução, uma vez que foi proposta por oportunistas políticos que queriam se aproveitar do abandono presente nas regiões separatistas para obtenção de maior parcela de poder. Convém citar que os propusentes dos projetos de lei a favor da divisão do Estado nem eram paraenses (o principal marketeiro deles, por exemplo, foi Duda Mendonça, baiano que foi contra a divisão de seu Estado, mas é a favor da divisão do nosso por ter terras em solos papa-xibés e que, portanto, se beneficiaria política, financeira e economicamente com a divisão), e são os mesmos pecuaristas, fazendeiros, grileiros e afins que lucram sobre a exploração de nossas terras, desmantando-as e ocasionando diversos outros fatores, como a deprimente posição do Pará como Estado brasileiro que possui maior número de trabalhadores em condições de trabalho escravo.
Além disso, percebe-se, nessa situação, manobra política análoga à que Sarney fez ao transferir seu domicílio eleitoral para o Amapá, transformando esse nosso vizinho em surcusal do Maranhão, estado em que o coronel manda e desmanda e que figura como herança no testamento do Don Corleone tupiniquim. O caso é que, pelo menos de acordo com a análise que fiz e que me levou a votar pelo NÃO, tais políticos vislumbraram a chance de, com a divisão do Pará, passar a ocupar melhores posições políticas e econômicas no decaído sistema sociopolítico brasileiro. Outro ponto importante, é que essa realidade de abandono não é exclusividade das regiões separatistas (em que pese ser mais representativa nessas áreas): basta caminhar por alguns bairros aqui da capital e presenciar o abandono, dentre eles posso citar a Vila da Barca, algumas regiões da Santissíma Trindade (Jurunas, Guamá e Terra Firme), o Benguí, o Parque Verde, etc.
Tudo isso que abordei não foi apenas para justificar meu voto contrário à divisão, mas também para parabenizar o povo paraense por não deixar esse esquartejamento acontecer, e, sobretudo, para deixar claro que não se pode ficar dessa forma e que foi válida a discussão gerada pelo plebiscito para que as autoridades possam refletir sobre seus modelos de gestão, que excluem a maioria para benefício de minorias.
Para que ocorra a melhoria desejada, é necessário não somente que a gestão administrativa seja repensada, mas a própria postura da população seja reformulada, passando-se a votar com maior consciência, distanciando do poder políticos corruptos e oportunistas e fiscalizando e cobrando daqueles que forem eleitos melhores ações para o povo, não ficando calados enquanto a Alepa, por exemplo, aprova lei que aumenta prazo de permanência de temporários, numa manobra descarada de garantir preenchimento de cargos por cabos eleitorais que nada contribuem para o engradecimento do Estado.
Por fim, deve-se também ficar atento para os rancores gerados pelo plebiscito, que pode ocasionar maiores distanciamentos de identidade cultural, e que, portanto, devem ser bem administrados para evitar que o Pará possa se tornar ingovernável tão somente por mágoas de coroneis locais que se viram distanciados da tão almejada fatia de poder, além de analisar outras propostas que já estão no nascedouro, como de possível novo plebiscito e, dessa vez, com peso de voto diferente para os eleitores das regiões separatistas como forma de compensar a baixa densidade demográfica dessas áreas.

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