terça-feira, 8 de março de 2011

A religiosidade na música d'O Rappa - Parte 1: Catequeses, Candidatos e Pescadores

   
“o rappa-mundi. universo onde: a diáspora, botecos, camelôs, ervas que curam e acalmam, glauber, joão saldanha, certos ditos populares, poesia dos vestígios, praias urbanas, despachos ecumênicos, ritmistas, etc... interagem com: o mega point, waly salomão, leonardo boff, diversões baratas ou emprestadas, ‘mexânicos’, comunidades virtuais, fábricas de esperanças, sebos, brechós, a corriqueira presença da violência e os olhos de iara lee. divirtam-se!” marcelo yuka
A banda carioca O Rappa é muito associada à sua atuação social e política, onde, além de manter trabalhos de Assistência Social, suas músicas são caracterizadas por letras fortes que refletem sobre a realidade do país e mostram-se como instrumentos de protesto. Com um estilo poético e musical próprio e ímpar, a banda consegue expor e falar do social de uma maneira singular, utilizando-se do contraste entre a intelectualidade e o modo simples de viver das pessoas da favela, o que deixa sua poesia rica e sofisticada, mas apresentada em uma embalagem bruta, marcada pelo uso de dialetos populares, apresentando ao mundo a riqueza cultural presente na favela, ainda que, para tanto, sejam requeridos esforços para tornar isso compreensível. Entretanto, nesse primeiro texto de uma série de quatro postagens, iremos retratar outra face dessa banda: a abordagem religiosa presente em suas letras.
Desde o inicio da banda, O Rappa carrega em sua identidade o DNA da mistura: de ritmos, de cores, de crenças. Essa mistura faz com que a banda possua originalidade em seu som, implicando aos críticos a boa dúvida sobre qual o estilo musical da banda (RAP, reggae, rock, rapcore, etc.), afinal, ela coloca em sua musicalidade riffs de guitarra, acordes pesados e, ao mesmo tempo, tons harmônicos de baixo, samplers, pontos cantados, vocais que se metamorfoseiam durante o entoar das canções, dentre outras experimentações, que tornam seu som um verdadeiro coletivo de ritmos. Particularmente, considero que a banda está inclusa como uma das principais precursoras de uma revolução da música nacional contemporânea, onde temos outros expoentes, como Racionais MC’s, Sabotage, Chico Science & Nação Zumbi, Black Alien, Planet Hemp, dentre outros. E, dentro dessa mistura, encontramos o lado religioso junto a outros temas abordados nas letras de suas composições.
Capa do CD O Rappa, 1994
Já em seu primeiro álbum, intitulado O Rappa (1994), a banda, formada inicialmente pelos músicos Marcelo Yuka (bateria), Alexandre Meneses (guitarra) - conhecido por Xandão, Nelson Meirelles (baixo), Marcelo Lobato (teclado, vocal e sampler) e Falcão (voz), demonstra essa característica. Muito embora a maioria das 16 faixas do disco carregar o lado social e político em suas letras, já encontramos em músicas como Catequeses do Medo, Brixton, Bronx ou Baixada, Candidato Câo Câo e Mitologia Gerimum a manifestação da religiosidade que, com o passar do tempo, vai se tornar mais visível e forte. A primeira música citada, por exemplo, além de criticar os mecanismos utilizados para manter a população submissa, utiliza a palavra catequese de forma metafórica, sendo tal mecanismo de utilização de metáforas religiosas como forma de protestar e refletir a realidade social recorrente na obra da banda. Além disso, durante a música são inseridos trechos de cultos religiosos diversos para tornar essa metáfora mais tangível.
Em Brixton, Bronx ou Baixada, 5ª faixa do disco, a religiosidade se apresenta mais forte, embora ainda seja utilizada para criticar metaforicamente a realidade. Em seus versos, pergunta-se “porque aprendemos tão cedo a rezar?” e “porque tantas seitas têm aqui seu lugar?”, indagações que são fruto da reflexão sobre as diferenças sociais, representadas aqui pelas diversas religiões, dentre as quais é exaltada na música a macumba (sic), religião afro-brasileira onde a poesia “se converte pelas mãos no tambor”. Nessa música, a banda demonstra a igualdade dos problemas sociais presentes não só no Brasil, mas também fora dele ao citar famosos guetos britânico, estadunidense e brasileiro, respectivamente Brixton, Bronx e Baixada Fluminense. A banda também apresenta como a religiosidade se mostra no imaginário popular: única forma de alento, onde os toques dos tambores são o único socorro promissor. Aqui nessa música já se mostra o espírito de coletividade que a banda carrega, onde são louvados diferentes ritmos musicais e, mais na frente, precisamente no ano de 2005, em seu Acústico MTV, a nova versão da música cita outras religiões, dentre as quais o candomblé e a religião católica, terminando com toques de tambores, remetendo, novamente, às religiões de matriz africana.
Candidato Câo Câo (11ª faixa), música de autoria de Walter Meninão e Pedro Butina e com participação especial do saudoso sambista Bezerra da Silva, traz, mais uma vez, a crítica a um problema social, desta vez a demagogia do político brasileiro em busca de votos. Entretanto, a religião vem em socorro do seu devoto, intervindo e desmascarando o farsante. A faixa que vem logo em seguida, Mitologia Gerimum, carrega versos que remetem ao imaginário religioso brasileiro, citando São Cristóvão, Padre Cícero e Frei Damião, e também traz o amor à ingrata terra natal. É a fé que fortalece o espírito daquele que sai de seu lugar para buscar a felicidade em outro chão.
Capa do CD Rappa-Mundi, 1996
No segundo álbum da banda (Rappa Mundi – 1996), agora com Lauro Farias no baixo no lugar de Nelson Meirelles, a religiosidade se manifesta nas músicas Ilê Ayê (4ª faixa), Hey Joe (5ª faixa), Pescador de Ilusões (6ª faixa) e Uma Ajuda (7ª faixa). Ile Ayê traz a religiosidade em seu título, uma vez que Ilê é a casa onde o culto das religiões afro-brasileiras é realizado e Ayê é o mundo em que vivemos, em contraposição ao Orum, mundo dos deuses. Música composta por Paulinho Camafeu, ela exalta a etnia negra: sua malandragem e sua filosofia. Também há nessa música um resgate do imaginário religioso brasileiro ao citar Santa Luzia, santa protetora dos olhos. Já em Hey Joe, versão elaborada por Ivo Meirelles e Marcelo Yuka da música composta por Bill Roberts e gravada por Jimi Hendrix, retrata um homem que busca fazer sua história pelo uso das armas. A religiosidade se faz presente aqui quando Marcelo D2, em participação especial, canta o seguinte verso (...) “armamento pesado, corpo fechado eu quero é mais vê (...)”, pois a expressão “corpo fechado”, no candomblé, significa que uma pessoa está protegida contra os males do mundo, em especial acidentes, moléstias, armas, venenos, enfim, aqueles que possam comprometer a integridade do corpo, sendo essa proteção obtida junto aos santos, cablocos e orixás.
Pescador de Ilusões é a faixa que mais apresenta traços de religiosidade dentre as músicas do 1° e 2° disco da banda. Presente no inconsciente coletivo brasileiro, sua letra fala sobre o ato e sacrifício de dobrar os joelhos frente às coisas nas quais temos fé. Também fala da ilusão, que consiste em um erro de percepção, nos parecendo como realidade, e que está presente em cada momento da vida, onde a “pescamos” e nos descobrimos. Ainda há a possibilidade de que, ao falar sobre isca e anzol na primeira estrofe da música, o eu-lírico esteja estabelecendo uma relação com a expressão “não temas; doravante serás pescador de homens”, supostamente, segundo o Novo Testamento da bíblia cristã, utilizada por Jesus Cristo ao chamar Pedro para segui-lo. Além disso, na última estrofe da música é citado “um livro sem final” do qual o eu-lírico cogita em catar as palavras, que pode ser interpretado como o Evangelho, pois este vem se mostrando cada vez mais sem um final claro, descobrindo-se um pouco mais sobre ele a cada dia.
Por outro lado, Uma Ajuda apresenta em um de seus versos a relação ciência-religião, separada por uma parede bem tênue, um (...) “muro fino entre a ciência e Deus” (...), o que caracteriza, mais uma vez, a presença do pensamento religioso na obra da banda, agora em contraposição ao pensamento racional-científico. Convém citar que muitas vezes o pensamento racional tira o sentido poético e religioso presente na criação humana, e isso deve ser considerado inclusive ao se fazer juízo sobre a forma como interpreto parte da obra d'O Rappa. Ainda desse disco, deve-se considerar alguns trechos da música O Homem Bomba (10ª faixa), como a alusão à transformação do sangue em vinho, na primeira estrofe, e o verso (...) “em meio a salmos, alvos e contas” (...) - neste verso, o uso da palavra conta pode estar associado tanto àquelas que devem ser quitadas, quanto às contas de um rosário -, entretanto, acredito que, embora se possa ver um pouco de referência à religião nesses dois trechos, a intenção principal da música é retratar não apenas a violência que, em certos corações, não se separa da diversão ou da religião (daí o título da música e o uso da palavra salmo, remetendo aos homens-bomba do Islã), mas também a condição do proletariado brasileiro, que a cada fim de mês inicia seu processo de explosão em busca de uma forma de sobrevivência e subsistência.

Próxima postagem em breve... 

Editado em 01 set. 2014.

40 comentários:

Alan disse...

Excelente trabalho, muito estudado, continue assim amigo.
Abraços

Amarildo Ferreira disse...

Bom dia, Alan! Muito obrigado pelo comentário e elogio. Hoje, considero que deixei alguns pontos sem serem tocados nessa postagem, e quem sabe estes pontos que acabei percebendo ao longo do meu contato com a obra d'O Rappa não originem outro texto. Entretanto, ainda estou em dívida com quem ler esse blog, pois faltam, pelo menos, mais duas postagens para concluir minhas ponderações sobre a religiosidade na música d'O Rappa até sua última obra inédita, o álbum 7 Vezes. E, como estão falando que a banda deverá lançar em breve mais um disco de inéditas, talvez essa série de postagem ultrapasse o número inicial de textos planejados. Uma coisa que deixei fora do texto e depois acabei percebendo é que a capa do CD Rappa Mundi é uma carranca feita com material de oficina. A carranca é muito presente no conjunto religioso das embarcações que navegam o Rio São Francisco, sendo utilizadas como forma de proteção e para afugentar espíritos ruins, demonstrando que a religiosa está presente não apenas nas músicas e letras da banda, mas também nos recursos visuais que utilizam, afinal, as capas de CD e vídeos-clip d'O Rappa são obras de arte particulares. Perceba, também, que a carranca da capa é feita por objetos reaproveitados de oficina, evidenciando, mais uma vez, o contraponto entre atuação social, religiosidade e manifestação da linguagem periférica. Demais!!!

Abraços, my "brodah"!

Kennedy Silva disse...

Excelente texto, vou ficar no aguardo dos próximos posts.

Amarildo Ferreira disse...

Obrigado, Kennedy!!! Já estou envergonhado em não ter postado mais textos dessa série, mas me justifico pelo fato de que meu tempo está cada vez mais escasso. Outra justificativa que também posso utilizar como desculpa é que nos ultimamente tenho ficado mais exigente comigo e tenho me aproximado cada vez mais e de forma mais íntima de toda expressão cultural, social e religiosa que O Rappa apresenta em sua obra. E isso se evidencia pelo desejo que de vez em quando me toma de reescrever esses posts, colocando novos pensamentos e redirecionando aqueles já apresentados. Enfim, espero poder postar os próximos textos dessa série antes do fim desse ano (e do mundo, de acordo com o que prega a profecia maia) e antes d'O Rappa lançar seu novo álbum, previsto para meados de novembro. Mó fya, my brodah! Laramassa tumiê!!!!

Guilherme disse...

Parabéns mesmo pelo trabalho muito bom...

Desculpa minha ignorância, mais poderia explicar o que significam aquelas girias que ele sempre fala como Laramassa tudian, ou ''Tudo ahooi''

Obrigado !
abraço.

Amarildo Ferreira disse...

Boa tarde, Guilherme. Muito obrigado por ter gostado do post, e não há necessidade de pedir desculpa por desconhecer o significado dos termos que perguntou. Eu também desconheço o significado de alguns desses termos e, quem sabe, isso gere algum tipo de trabalho. Então, vamos lá: o que posso responder a você é que muitas dessas expressões são originárias de dialetos jamaicanos, que misturam o inglês com línguas nativas. por exemplo, a expressão Mó fya é originária de more fire, ou seja, mais fogo, e é comumente utilizada pelos rastas simbolizando a queima da Babilônia, representação do sistema de dominação e corrupção das pessoas vigente. Em pesquisa rápida sobre o assunto, vi que essas expressões são utilizadas como saudação entre os rastas e possuem como principal objetivo manifestar a positividade e a energia presente em seus corações. Logo, o mais importante seria entender por que Falcão as utiliza, ou seja, para expressar e fortalecer a energia e positividade da música. Seria algo como um mantra de energização desse momento que é o cantar perante o público.
Além disso, outras dessas expressões são somente vocalizações, voltadas para abrir caminho e para enfatizar a energia da música. Espero ter sido objetivo!!! Shiloh (PAZ)!!!!!

Anônimo disse...

Muito bom, gostei muito do texto e gosto muito da banda O Rappa,admiro o trabalho deles e o jeito que eles passam a positividades nas musicas deles pra nós! queria ver as outras postagens ae ;D

Anônimo disse...

Amarildo meu velho isso que vc fez foi mto bom, uma parada que quem curto o som do rappa sempre tenta fazer, ENTENDER a mensagem da musica, vc falou tudo cara, perfeitamente, ta de parabens mesmo, faz tmp qe vc postou isso, mais espero qe um dia tu veja meu comentario brother,vc fez um grandioso trabalho de percepçao e soube detalhar perfeitamente.. parabens mesmo Amarildo e como diz num trecho "Pra enxergar o infinito debaixo dos meus pés não basta olhar de cima" grande abraço

Amarildo Ferreira disse...

Pow, my 'brodah", muito obrigado por ter gostado e por ter dedicado alguns minutos pra expressar isso. é bom saber que vocês gostaram, da satisfação e ânimo pra continuar com essa série de postagens, que tá atrasada não por falta de vontade e de ideias, mas porque tem rolado muitas fitas que acabam consumindo o tempo. Agora, é uma pena não saber o seu nome pra poder personalizar melhor a resposta. Bem, mais uma vez obrigado e fique à vontade pra expressar sua opinião por aqui. Abraços e shiloh!!!!

Henrique disse...

Porra....mandou mt velho!!!
Parabéns, curto Rappa a pampa....no aguardo das continuações!!!!
Abçs.

Anônimo disse...

Mas qual é o objetivo dessa analize ..

Amarildo Ferreira disse...

Obrigado, Henrique. A continuação (se é que ainda virá) está adormecida pois no momento estou focado na realização da pesquisa que vai aportar minha dissertação de mestrado.
Quanto à pergunta do anônimo que comentou dia 03/03/14 sobre o objetivo da análise, acho que o próprio título da postagem e o primeiro parágrafo do texto deixa explícito isso: apresentar, embora não de uma maneira mais aprofundada antropologicamente, que, além dos aspectos sociais cuja presença nas letras de músicas d'O Rappa são de notório conhecimento, há a abordagem de aspectos religiosos nessas mesmas músicas, tanto como um artifício metafórico, quanto como representação de valores compartilhados por grande parte da população brasileira.

Unknown disse...

Boa Tarde... Amo de paixão a Banda..e piro muito nesses dialetos que eu creio ser de origem Jamaicana que o Marcelo ( Falcão ) grita entre uma música e outra... qdo a Mó fya.. já li aqui no seu Blog achei Maneiríssimo.. mais ainda estou curiosa quanto a LARAMASSA???? Pesquisei em alguns lugares e encontrei como significado: ALELUIA, seria isso mesmo!!!
Obs: Adorei sua Matéria... Pra mim O RAPPA é um estilo de Vida...Valeu!!!

Caio alves disse...

Parabens pelo trabalho. Muito bom !!!

Daniel disse...

É irmão, a banda realmente tem muita influência espiritista, cada vez mais evidente, porém, aí está a genialidade dos compositores: eles falam sem dizer. É tudo muito sutil, mas expressivo ao mesmo tempo. Existem outros caras que também conseguem mandar muito bem em passar religiosidade discretamente, mas com efetividade, como se verifica em alguns trabalhos do Renato Teixeira, Almir Sater, Gonzaguinha, Los Hermanos, Zé Ramalho, Teixeirinha, entre outros que não me lembro agora. Parabéns pela pesquisa, só deixo minha respeitosa opinião de que "macumba" não me parece ser o termo correto para se referir às diversas linhas da "doutrina" espiritista (budismo, cristianismo, umbanda etc.), todas com seus próprios códigos, porém, que tratam dos mesmos fatos.

Anônimo disse...

Amei a matéria,mas concordo com o Daniel que "macumba"nao soa tão bem ta,mas tirando isso amei

Amarildo Ferreira disse...

Boa noite, Daniel e Anônimo. Primeiramente, muito obrigado pelos comentários, e fico feliz que o texto lhes tenha agradado. Concordo sem sombra de dúvidas que diversos outros músicos exploram aspectos de religiosidade em suas composições, mas não falei deles porque decidi abordar isso numa banda que conheço um pouco melhor que outras, sem falar em algumas questões relacionadas a gosto musical mesmo, o que faz com eu não tenha interesse, por exemplo, em abordar esse ou qualquer outra temática das músicas dos Los Hermanos.
É interessante quando se abre oportunidade para o recebimento de comentários e críticas, pois a partir daí podemos rever alguns de nossos posicionamentos no passado, modificando-os ou não.
O comentário de vocês permitiu que eu relesse o texto e constatasse que realmente uso o termo "macumba" aqui e ali. Felizmente, passados três anos desse texto, pude rever algumas coisas sobre isso que mesmo que pareçam pequenas não são triviais, como o entendimento de que "macumba" é um termo pejorativo e que também não serve para referir-se ao conjunto de religiões de matriz africana, que é ao que quis fazer referência no texto. No entanto, confesso que nem lembrava ter feito uso desse termo aqui, e, mais uma vez, o comentário de vocês permitiu atentar para isso e reparar esse erro cometido no passado.
Assim, editei o texto nesse ponto, substituindo quase todos os termos "macumba", com exceção de um, que assinalei um (sic) para expressar que ele se encontra assim mesmo na obra referida: "Salve o jazz, baião e os toques da macumba (sic) também".

Obrigado por esse momento de interação!!!

P.S.: quando falo em se rever algumas coisas, pode-se estender para o meu próprio gosto pela banda. Digo isto porque a própria postura recente de alguns membros da banda que me fizeram gostar tanto dela estão me fazendo rever a intensidade e o tipo desse gosto, sobretudo algumas declarações infelizes do Falcão. Além do mais, esse último álbum (Nunca tem fim) terminou por não saciar o que esperava, deixando-me a impressão de foi mais um álbum para cumprimento de contrato com a gravadora do que uma criação mais espontânea. Que O Rappa é constituído de bons músicos, não há dúvida, mas tudo isso tem me impelido a concordar com a declaração do Yuka de que O Rappa tornou-se cover de si mesmo. Um pena...

Amarildo Ferreira disse...

P.S. 2: Daniel e Anônimo, para descarregar um pouco mais a consciência, indico que leiam minha resposta ao comentário do Kennedy, em março de 2012, que pode ser conferida acima. Abraços e outras aquarelas!!!!

Anônimo disse...

Amigo, belas e sábias palavras, continue seus textos sobre a banda, e sobre o Yuka, infelizmente também compartilho da sua forma de pensar.

Unknown disse...

Ótimo Texto. Parabéns pelo trabalho.

Francisco disse...

Belo texto.O rappa é uma baita banda.Sobre as declarações do Falcão;recomendo que as ignore.É bom separar o artista do ser humano,pois a construção artística é bem diferente da construção ideológica heheh.
Aguardo novas reflexões sobre as canções d'O rappa,abraço!

Anônimo disse...

Contas = Contas a pagar? HAHAAHA, sai desse mundo cara! São contas de santo, usadas no candomblé!

Anônimo disse...

E continuando: E porfavor não chame as contas de santo de rosário <3

Anônimo disse...

E perceba a linearidade: salmos, alvos e contas: "cristãos" e seus "alvos", não cristãos

Amarildo Ferreira disse...

Inicialmente, embora eu seja grato pela atenção dada ao texto, peço-lhe que se mantenha o mínimo de educação necessária para o diálogo, o que a ironia do trecho "HAHAHA, sai desse mundo cara!" demonstra que está frágil. Digo isso porque mesmo se há afã em contestar trecho da interpretação que fiz ou a interpretação completa, isso não enseja tal tratamento que em outras palavras acusa-me de bitola tão estreita. Objeções são necessárias e importantes, mas devemos saber como realizá-las em proveito do debate, que aqui é o que mais nos importa. Depois, destaco os seguintes pontos para o debate:
1. Como falei acima, este texto, e os demais sobre o tema, são uma interpretação da abordagem da religiosidade feita pela banda. Como interpretação, não significa que estabeleça "A VERDADE" sobre o tema exposto, mas uma perspectiva de interpretá-lo. Com isso, é possível e mesmo desejável que outras interpretações sejam suscitadas, e, ainda, há a possibilidade de que nenhuma esteja de acordo com o que o compositor pensava no momento em que compunha, o que não significa que possam ser também por ele tomadas como verdadeiras. Além disso, convém deixar claro a influência do período em que meu texto foi produzido, pois de lá pra cá tive contato com outras questões que podem me fazer rever este ou aquele ponto, sem, no entanto, pedir-lhes para que esqueçam o que outrora afirmei.
2. Concordo que a interpretação como contas de santo pode ser mais adequada, o que não retira a possibilidade de também vir a ser interpretada, como deveras foi, como se fosse um jogo de significados em torno da palavra "conta", em que possível interpretá-la como "contas a quitar", ou "contas de um rosário", ou "contas de santo", ou, ainda, tudo ao mesmo tempo, o que pode ser mais provável, pois demonstra a multiplicidade semiótica que a música da banda possui - o que a enriquece, também. Logo, veja que eu não descarto que possam ser também contas de santo, mas quero destacar um vacilo seu na leitura de meu texto: o trecho que você coloca xeque é exatamente o seguinte "[...] neste verso, o uso da palavra conta PODE estar associado tanto àquelas que devem ser quitadas, quanto às contas de um rosário [...]". Destaquei em maiúsculas a palavra PODE porque é em torno dela que gira meu argumento de que você vacilou na interpretação das palavras que utilizei, fazendo um juízo ligeiro no afã de expor suas convicções.
Fazendo-se uma busca em um dicionário, você terá os seguintes significados para o verbo poder: ter a faculdade ou possibilidade de; e achar-se em estado de. Acho que claro está que destaquei somente os significados que se encontram de acordo com o sentido que acionei quando conjuguei este verbo no texto, excluindo-se aqueles que estão relacionados à força ou à autoridade. Logo, perceba que a palavra que destaco traz consigo a ideia de possibilidade, isto é, daquilo que pode vir a ser mas não necessariamente o, junto da ideia de achar-se em um determinado estado, que, no nosso caso, na verdade, no meu caso, pois a interpretação posta em dúvida é a minha, no estado de ser interpretada a um só tempo por contas a quitar e por contas de rosário, o que não impede que outra interpretação venha a esta se somar e, em determinadas momentos de de interpretação, fazer uma conversão semiótica e deslocar as demais.

Amarildo Ferreira disse...

3. Para finalizar, quero deixar claro que naquele momento eu não deixei a interpretação fechada, por isso o uso do PODE, porque tinha, e ainda tenho, plena consciência de que outros significados possam estar ali imbricados e podiam me escapar por um ou mais motivos, o que, no entanto, não os desqualifica. No entanto, em seu segundo comentário você me pede para não chamar contas de santo de rosário. Na realidade, em nenhum momento eu estou fazendo isso. Refiro-me, em meu texto, ao rosário mesmo, que foi o que de imediato pensei por conta da palavra "salmos" no mesmo verso da música. Logo, você utiliza-se de um recurso inválido ao dizer que eu estou confundindo contas de santo por rosário, o que efetivamente não é, e espero ter-lhe provado junto com a admissão de que TAMBÉM PODE ser contas de santo o significado a ser tomado. Assim, você equivoca-se no entendimento de minha interpretação para acusar-me de que eu estou equivocado no entendimento da música. Em outras palavras, toma seu erro pelo meu.
4. Quanto ao seu último comentário, podemos convir que nele não há sentido inteligível, não é?

Por ora é isso, e que possamos compartilhar mundoS (e mundoS que mudam).

Abraços e outras aquarelas!

Anônimo disse...

Significado de Laramassa tudian... Como a Eliane perguntou e vc não viu.

Amarildo Ferreira disse...

Bom dia! No meu comentário postado no dia 18 de dezembro, respondi pergunta semelhante a que a Eliane fez. Desculpe-me somente o lapso de não ter apontado isso para ela na ocasião, mas está acima a resposta que no momento posso dar a esta pergunta. Abraços!!

Unknown disse...

Li q LARAMACE vem do hebraico e significa ALELUIA ou Louve a Deus !!! Mofaia é como o autor do texto falou, more fire (mais fogo)

Unknown disse...

Li q LARAMACE vem do hebraico e significa ALELUIA ou Louve a Deus !!! Mofaia é como o autor do texto falou, more fire (mais fogo)

Unknown disse...

Excelente abordagem! Eu sou fã do Rappa desde o primeiro CD e, até então, nunca li um artigo com uma abordagem tão bacana quanto o seu! Excelente!

Unknown disse...

Eu li que LARAMASSA = Let I My Say = "Deixa eu falar".. E que também seria um dialeto jamaicano que abreviaria os sons da frase em inglês.. basicamente na mesma composição citada pelo autor ao explicar a origem da palavra "Mofaya".

Bom..espero ter ajudado!

obs.: AMEI o texto..super descreveu o O Rappa!

Unknown disse...

São 03:15 da madrugada, hora que busco inspiraçao pra evoluir profissionalmente e humanamente, e encontro um texto que me dá o que estava procurando. Obrigado!

Anônimo disse...

Putz!!!
Achei seu texto TOP!! Sou fãzasso do som da banda e procuro sempre entender as letras das músicas que nos fazem abrir os olhos e a mente pra tantas coisas.
Parabéns pelo texto e se me permite, tb concordo com vc quando fala que os últimos álbuns parecem ter saído um tanto forçado talvez por conta de contrato, mas MESMO ASSIM EU CURTO MUITO o som dos caras, que é um som único e de muita riqueza.
Abraços...

@a.k.a_de.erre.i_ivs disse...

Mano to lendo em 2016 essa fita ai e vou falar pra vc q ta sensacional, parabéns pelo trabalho

Anônimo disse...

Olá, vi algumas pessoas comentando sobre o termo "Laramassa". Fiz uma pesquisa rápida aqui e cheguei a conclusão que o termo, assim como "Mofaia" (Moh fyah = More fire), também se refere a uma expressão do dialeto jamaicano, "Lawd a massi".

Essa expressão pode ser traduzida para o Inglês como "Lord, have mercy" e para o Portugês como "Deus, tenha piedade".

Marco Aurélio disse...

Olá Amarildo.
Fazendo uma pesquisa aqui na Net o seu artigo foi o que mais se aproximou dá vontade que tenho de saciar minha curiosidade. Apesar de escrito há alguns anos atrás, vejo que sempre o mantém atualizado com suas respostas precisas.
Pois então: no mais recente trabalho do Rappa ( Oficina Francisco Brennand - o acústico "Nuca tem fim" - 2016 ) na música " Holofotes ", eles fazem uma referência o que me pareceu a ayuasca ( Santo Daime ) no trecho: " Coração, síncope ritmada
Me protege dos meus sentimentos
O santo dorme, o santo daime
Muita coisa de bom que acontece com a gente"...
Bom a minha pergunta é: saberia me informar se realmente os integrantes dá banda tiveram algum contato com a Doutrina do Santo Daime ( ayuasca ) e se sim, como foi está experiencia vivida por eles ? Oi nada disso, é apenas uma "coincidência" ou especulação de minha parte.... Agradeço e aguardo um retorno seu. Abraço.

Sobrevivente 021 disse...

Ótima mensagem! Parabéns pela postagem!

Unknown disse...

Uau! Caro Amarildo, achei fantástica a sua interpretação sobre as letras deles, muito bem detalhado, parabéns! Bom, já estamos em 2017 e só achei essa matéria porque estava procurando pelo significado do termo Laramace "Tudian", "tubian", "tumiê", não sei como se escreve porque já vi a dúvida outras pessoas sobre esse mesmo termo escrito de diversas formas, mas ainda não achei o significado. Sobre o termo Laramace eu já me convenci de que quer dizer Aleluia", mas quanto a "Tudian" ainda tenho muita curiosidade, estou tentando descobrir. Amarildo, não sei se você ainda continua com esse trabalho, já percebi que você é muito estudado, inteligente, e pode estar cheio de projetos; mas eu acho que as letras do D'O Rappa merecem até um livro contando as histórias e interpretação de cada música, eles são muito críticos, e acho riquíssimo o conteúdo de cada uma delas. Seria um presentão para nós fãs, ainda mais sabendo que eles vão parar no ano que vem... :( De qualquer forma, gostaria de parabenizar seu trabalho, espero que venha novas postagens e te desejo muita sucesso!

Unknown disse...

muito obrigado, tirou minha duvida

Fora, Temer!