terça-feira, 15 de março de 2011

O Reprocesso


Night (after Millet), 1889 -Vincent van Gogh (1853-1890)
“Os pés e a pele são um só, guiados pelo 2° sistema nervoso, que a rua faz em nós. Pés que não jogam na rua, dificilmente, merecem a camisa dez. E os povos fodem, se fundem, se fodem e se confundem ao som dos mantras-RAP’s, difundidos pelos camelôs que gritam e profetizam o reprocesso da tecnologia do tão sonhado primeiro mundo. São armas que viram brinquedos que viram armas made in Rio de Janeiro. Um filho, um fígado e um travesti mais barato no mercado Black mundial. É a decepção de Santos Dumont justificada pela esperança em estado de solidão. Onde a rua vira casa, mesa e banho, formas modernas de crime se parecem com formas modernas de poder e das sucatas vem o milagre displicente que restou pra gente, a vingança coletiva de continuar em frente, desafiando qualquer religião, custo de vida, vanguarda ou tradição, pois, no final do dia, sem dar satisfação um mendigo reparte, com outro, seu pão, um velho judeu faz um novo despacho, confiando nos santos, sem magoar Israel. Um bando de crianças toma banho no chafariz da Candelária ‘cagando e andando’ ... pro bizarro. É quando a gema do caos se aproxima de Deus, colorindo géns, criando diversos mulatos, nossa melhor metade escapa num salto mortal, como fez meu ancestral, rápido como um ‘rabo-de-arraia’. Somos Angola e regional, ‘aqui e agora’ e, ... por aí a fora, a capoeira é vida e a vida é capoeira. A gente dança como se fosse luta, a gente luta como se fosse dança.”

Marcelo Yuka - texto publicado no encarte do CD O Rappa (1994)

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Fora, Temer!