domingo, 29 de novembro de 2009

O fortalecimento da EaD: do uso pejorativo do termo “Curso por Correspondência” ao nascimento de um novo modelo de Educação.

“O Poder Público incentivará o desenvolvimento e a veiculação de programas de ensino à distância, em todos os níveis e modalidades de ensino e de educação continuada.” Art. 80 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996


Na última sexta-feira, dia 27 de novembro de 2009, foi comemorado em todo o Brasil o Dia Nacional da Educação à Distância (EaD), modalidade de ensino que, diferentemente do que muitos pensam, já existia antes do advento da informática e da explosão do fenômeno Internet e que não se resume apenas aquela que é disponível na web, embora tenha recebido um maior impulso após esses fatos que marcaram o surgimento da Sociedade da Informação, a qual estamos vivenciando hoje. Na verdade, a EaD, como conhecemos hoje, é resultado de uma série de adaptações e diferenciações de modalidades educacionais ocorridas para acompanhar a evolução tecnológica e realizadas para suprir a necessidade humana de transmitir conhecimentos e experiências de geração para geração e para uma amplitude cada vez maior de pessoas. Seu surgimento modificou o espírito educacional, dando ao aluno que a utiliza maior domínio sobre seu próprio processo de aprendizagem, utilizando mídias de ensino diferenciadas, dispensando a presença física do mestre e, seguindo a tendência da moderna pedagogia, transformando este num provocador, motivador e facilitador do processo de ensino-aprendizagem, em detrimento da ultrapassada prática de dominação exercida pelo professor sobre seus alunos, que eram forçados a manterem-se inertes, tornando o processo de ensino uma relação de interação com apenas um lado ativo, portanto cheia de ruídos.

Como dito anteriormente, a EaD passou por uma série de transformações e adaptações ao que a Sociedade exigia (e continua exigindo), evoluindo de uma modalidade de ensino que focava apenas em seus conteúdos e resultados para uma onde, além desses dois fatores, há um foco na maneira como se realiza o processo de comunicação, tornando-se uma aprendizagem mais colaborativa, onde professores e alunos são produtores e consumidores de conhecimento, ou seja, evidenciou-se uma evolução de uma abordagem embasada pela corrente behaviorista da Psicologia, que tem como pressupostos a pregação de que resultados são influenciados por reforços positivos (recompensas) ou negativos (punições), para uma visão Construtivista, defensora da parceria e cumplicidade entre os atores do processo ensino-aprendizagem. Sua estrutura permite a criação de oportunidades educacionais a grandes contingentes de pessoas, mesmo com estas encontrando-se geograficamente distantes umas das outras e dos responsáveis pelo direcionamento das atividades a serem realizadas (coordenadores, tutores, monitores ou orientadores), mas sem desconsiderar as características individuais de seus usuários, pois possibilita uma maior flexibilidade, respeita o ritmo individual e se adequa ao estilo de aprendizagem do aluno, promove autonomia, exerce papel de inclusão social e, ao contrário do que muitos ainda pensam, não perde em qualidade pedagógica, além de possibilitar a redução de custos ao utilizar a Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) como forma de suporte, eliminando gastos com estruturas físicas para atender aos alunos e reduzindo o número de colaboradores necessários ao desenvolvimento das atividades, do ponto de vista do ofertante do curso, e extinguindo gastos com transporte e materiais, já que a maioria destes é disponibilizada virtualmente e no próprio ambiente de curso, e inclusive reduzindo o preço do curso, muitos oferecidos de graça e outros a um preço menor em comparação com o presencial, do ponto de vista de quem demanda pelo curso, ocasionando uma “industrialização do ensinar e aprender”.

Quando falo que a EaD já existia antes da Internet e que não está relacionada apenas a esta, refiro-me ao fato de que a mesma já se apresentou por meio do rádio (Projeto Minerva/Rádio MEC), do material impresso (Instituto Universal Brasileiro), da TV (Telecurso 2000, canal Futura), de vídeos, do telefone, da web e de tantas outras mídias quanto o homem já inventou. Nela, a experiência de gestor de seu próprio processo de aprendizagem possibilita ao aluno o exercício e a vivência de experiências que contribuem para o desenvolvimento de habilidades de aplicação do conhecimento adquirido em soluções de problemas, o mantém atualizado e lhe proporciona a possibilidade de seleção das informações que julgar mais necessárias para sua vida pessoal, social e profissional. Entretanto, o aluno que optar por esta modalidade de ensino deve ter consciência de que alguns aspectos de seu comportamento devem ser modificados, caso contrário podem tornar essa escolha mais onerosa e prejudicial do que a tradicional forma presencial de ensino, o que denota uma falha não na forma à distância como o curso é apresentado, mas sim na maneira como o próprio indivíduo delineou seu processo de ensino. Assim, como o conteúdo está sempre disponível, ao aluno cabe somente organizar seus materiais, observar as datas do cronograma do curso, distribuir o tempo, cumprir os prazos das tarefas, avaliar onde necessita aprofundar conhecimentos e onde já tem domínio assegurado, pesquisar e exercitar o conteúdo, já que ele é o responsável pela aquisição do conhecimento e tais medidas facilitarão o domínio do conteúdo do curso. Mas, isso não retira do professor algumas responsabilidades, pois a este cabe a orientação da aprendizagem, a disponibilização das alternativas e o estímulo do envolvimento do aluno em todo o processo.

Ademais, mesmo com tantas vantagens é necessária certa cautela ao se optar por um curso à distância. A principal desvantagem da modalidade, que, na verdade, nem está ligada a modalidade em si, mas a uma reação natural à mudança que esta vem realizando na estrutura educacional, é a falsa noção de que um profissional formado com o uso de tal metodologia apresenta qualificação inferior frente aqueles que obtiveram formação presencial (o estigma do “curso por correspondência”), muito embora tal percepção venha perdendo adeptos com o passar do tempo. Outro fato importante é a atenção para o critério de escolha de instituições, que deve ser criterioso e embasado em referenciais consistentes, pois a escolha de uma instituição errada pode implicar em grande prejuízo e numa subqualificação curricular. Alguns pontos importantes no processo de escolha de se fazer um curso presencial ou à distância são:

1. Verificar o grau de aprendizagem compartilhada;

2. Observar se há assistência constante do tutor e dos demais membros da equipe de suporte;

3. Avaliar a interatividade entre os atores do processo ensino-aprendizagem;

4. Analisar se a instituição respeita a disponibilidade e o ritmo de cada aluno;

5. Observar se há facilidade de acesso aos conteúdos;

6. Verificar se há uma perspectiva de desenvolvimento da autonomia do aluno;

7. Avaliar a disponibilidade de materiais que apresentem conteúdos auto-instrutivos;

8. Priorizar instituições que apresentem comunicação bidirecional;

9. Observar se existem mecanismos de socialização do conhecimento, como fóruns e salas de bate-papo, por exemplo;

10. Analisar se o ambiente do curso é projetado para uma utilização intuitiva ou se é complexo demais;

11. Em casos de cursos on line, observar a configuração mínima necessária.

Após analisados os aspectos apresentados, o aluno terá maiores subsídios para decidir qual processo de aprendizagem se adequa mais à sua realidade e qual instituição lhe proporciona maiores benefícios, o que gerará uma maior probabilidade de sucesso ao término do curso. Abaixo, seguem algumas dicas de cursos na modalidade EaD fornecidos na web, todos gratuitos.



Dicas de Cursos On Line Gratuitos

SEBRAE – O ambiente de EaD do Serviço de Apoio às Micros e Pequenas Empresas merece destaque por priorizar o incentivo a difusão de conhecimentos relacionados ao empreendedorismo, fomentando o desenvolvimento de novos negócios. No ambiente, tem-se acesso aos cursos Atendimento ao Cliente (AC), Boas Práticas nos Serviços de Alimentação: Gestão da Segurança (BPSA), Aprender a Empreender (AE), Análise e Planejamento Financeiro (APF), Como Vender Mais e Melhor (CVMM), D-Olho na Qualidade: 5S`s para os Pequenos Negócios e Gestão de Cooperativas de Crédito (GCC). Ao realizar a inscrição em um desses cursos, o aluno é inserido automaticamente no curso de Ambientação, que é uma apresentação do conceito de EaD e da estrutura do ambiente de curso, facilitando seu desenvolvimento e possibilitando ao aluno aproveitar com eficácia todas as ferramentas disponibilizadas. Possui como desvantagem o fato de que seus cursos não são disponibilizados imediatamente, pois dependem da formação de turma. Indico o site para quem está em busca de conhecimentos iniciais sobre empreendedorismo.

CIEE – O Centro de Integração Empresa-Escola oferece cursos on line nas mais diversas áreas, englobando da Atualização Ortográfica à Cidadania e Meio Ambiente. Entretanto, os cursos oferecidos são relacionados, na grande maioria, a assuntos básicos, podendo causar frustração aqueles que buscam conhecimentos mais técnicos e avançados, afinal o site tem como público-alvo principal adolescentes que estão iniciando sua preparação para o mercado de trabalho. Mesmo assim, vale a pena o acesso para quem considera toda forma de conhecimento válida.

FNQ – O site da Fundação Nacional da Qualidade apresenta tanto cursos gratuitos quanto pagos, destinados ao desenvolvimento da qualidade nas organizações brasileiras. Destaco os cursos de Sensibilização para a Excelência em Gestão, Modelo de Excelência em Gestão (MEG) e Preparatório para Banca de Examinadores do Prêmio Nacional de Qualidade, todos voltados para a implantação dos pressupostos do PNQ nas organizações brasileiras, com destaque maior para o último, que é a primeira fase para obtenção da oportunidade de ser examinador do referido prêmio, com o restante da qualificação para tal sendo realizada presencialmente. Todos os cursos apresentam conteúdo altamente técnico e de muita qualidade.

Aprendendo A Exportar – Embora não seja um curso propriamente dito, essa página da Internet criada pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) apresenta ótimo conteúdo para quem tem interesse em Comércio Exterior, introduzindo conceitos básicos e delineando ações a serem praticadas para conseguir exportar produtos com qualidade e rentabilidade. Indicadíssimo!

FGV On Line - Indicado pelo amigo e colega de faculdade Rodrigo Franco,o portal de cursos on line da Fundação Getúlio Vargas oferece cursos gratuitos de qualidade, nas áreas de Gestão Empresarial, Metodologia, Atualização Ortográfica e em outras Áreas do Conhecimento. Tal serviço só se tornou possível a partir do momento que a FGV se tornou membro do OCWC (Open Course Ware Consourtium), que consiste num consórcio de instituições de ensino de diversos países que oferecem conteúdos e materiais didáticos gratuitamente pela Internet, tornando-se a primeira instituição brasileira a aderir ao consórcio. Os cursos apresentam conteúdos atualizados e com riqueza no assunto desenvolvido, além de textos complementares que podem ser "baixados" no próprio ambiente do curso e sugestões de vídeos e sites relacionados ao tema de cada curso.

ATUALIZAÇÃO: as dicas abaixo foram acrescentadas à postagem no dia 15 de fevereiro de 2013.



Referências Bibliográficas
  1. Manual de Ambientação – Guia do Aluno (SEBRAE, 2009)

  2. Guia Interativo de Informação Profissional e Educacional – GIIPE/CIEE. Educação à Distância e o futuro. (Arnaldo Niskier)

  3. Guia Interativo de Informação Profissional e Educacional – GIIPE/CIEE. Nasce Um Novo Modelo de Educação. (Maurício Chermann e Luci Mendes Bonini)

domingo, 22 de novembro de 2009

Resenhas

A partir de hoje, inicio a postagem de uma série de resenhas, onde vou apresentar sugestões de livros que considero interessantes de serem lidos. A série não será contínua, o que significa que será intercalada por outros tipos de postagens. Os livros que indicarei a vocês serão dos mais diversos gêneros e expressarei minha opinião sobre eles sempre deixando espaço aberto para a opinião de vocês, sejam elas a favor ou ao contrário da minha. Abaixo segue minha primeira sugestão. Conto com a participação de vocês!
Amarildo Ferreira Júnior

Nome do Livro: Administração – Teoria e Prática no Contexto Brasileiro

Autores: Filipe Sobral (Doutor em Administração pela Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getúlio Vargas, Mestre em Ciências Empresariais pela Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, Portugal, e Coordenador Acadêmico do Programa de Certificação de Qualidade da FGV) e Alketa Peci (Doutora em Administração e Mestre em Administração Pública pela Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getúlio Vargas).

Editora: Prentice Hall

N° de páginas: 416

Preço: em média R$ 100,00

Primeiro livro que li relacionado à Administração, Teoria e Prática no Contexto Brasileiro é um livro indicado a quem está iniciando seus estudos nessa ciência social aplicada, tendo como objetivo familiarizá-lo ao universo da Administração, pois apresenta conceitos básicos para o administrador e seu conteúdo está aplicado diretamente à realidade brasileira, algo raro quando se trata de literatura para administradores, onde ainda há predominância de compilações e traduções de livros estrangeiros, que muitas vezes não apresentam nas teorias defendidas um ponto de aplicação em solo brasileiro. O livro se divide em 12 capítulos, que passeiam pela apresentação dos conceitos básicos para um administrador, a descrição e análise do processo de tomada de decisão, uma visão geral e evolutiva das principais escolas do pensamento em Administração, analisa e retrata as 4 principais funções de um administrador (Planejar, Organizar, Dirigir e Controlar) e, por fim, apresenta as áreas funcionais de Operações, Marketing, Recursos Humanos e Financeira. A leitura do livro permite a aquisição da percepção do que é uma organização, quem é o administrador e em que consiste a expressão administrar uma organização, dando ao leitor pressupostos básicos para adquirir maturidade e, assim, manter contato com livros mais profundos sobre temas administrativos, consolidando de maneira mais eficiente conhecimentos adquiridos.

Os autores também apresentam uma visão dinâmica da Administração, análises de alguns casos, dentre eles se destacam o da Gol Linhas Aéreas e de Roger Agnelli, Diretor-Presidente da Vale, e buscam apresentar as tendências e os desafios para o administrador contemporâneo, o que aumenta ainda mais a necessidade de leitura desse livro por qualquer pessoa que se interesse ou pretenda atuar na ciência da Administração.

Leia abaixo dois comentários sobre o livro apresentado:

"O livro Administração: Teoria e Prática no Contexto Brasileiro preenche uma importante lacuna entre os livros-texto de administração em língua portuguesa. Os professores Filipe Sobral e Alketa Peci elaboraram um trabalho não só rigoroso e claro, mas principalmente aplicado à realidade brasileira. Trata-se de uma obra de leitura obrigatória para estudantes de administração e administradores. Os leitores se beneficiarão da visão sistêmica, integrada e abrangente apresentada no texto."

(Antonio Freitas, Ph.D. Presidente da Associação Nacional dos Cursos de Graduação em Administração – ANGRAD)

"Administração: teoria e prática no contexto brasileiro constitui uma inestimável contribuição para a formação básica dos futuros administradores que buscam graduar-se ou daqueles que, em nível de pós-graduação, procuram complementar os estudos, qualificando-os a vôos mais ambiciosos como dirigentes, consultores ou professores e pesquisadores."

(Bianor Scelza Cavalcanti, Ph.D. Diretor da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getulio Vargas - EBAPE/FGV)

domingo, 15 de novembro de 2009

Ministério do Trabalho e Emprego publicou Portaria que torna obrigatória a certificação dos SREP

No dia 21 de agosto de 2009, o Ministro do Trabalho e Emprego Carlos Roberto Lupi assinou e publicou a Portaria de número 1.510 que disciplina o uso do ponto eletrônico nas empresas. Tal medida obriga às empresas a adotarem um sistema de controle da assiduidade de seus colaboradores certificado pelo Ministério do Trabalho e Emprego, o que impede a adulteração dos dados e fraudes dentro das empresas para não pagar horas extras, gerando uma maior certeza de correção na marcação, protegendo funcionários, ao lhes proporcionar uma maior garantia de registro de sua efetiva jornada de trabalho, e empregadores, ao permiti-lhes um maior controle sobre a assiduidade e frequência de seus funcionários.
Segundo a Portaria, as organizações têm um prazo de 12 meses a partir da publicação da mesma no Diário Oficial para certificarem seus relógios de ponto, entretanto a adaptação dos arquivos e dos sistemas às especificidades da portaria deve ser imediata. Assim, a Portaria obriga as empresas a adotarem um SREP (Sistema de Registro Eletrônico de Ponto) que registre horários fielmente, não sendo permitidas, por lei, ações que desvirtuem os fins legais para os quais é adotado o SREP, como:
  • Imposição, por parte das empresas, de restrições de horário à marcação do ponto;
  • Marcação automática do ponto (utilizando-se horários predeterminados ou o horário escrito no contrato de trabalho);
  • Exigência, por parte do sistema, de autorização prévia para marcação de sobrejornada;
  • Existência de qualquer meio que permita a alteração dos dados registrados.

Logo, quando da realização de fiscalizações trabalhistas e auditorias, se forem encontradas provas de que houve adulteração dos horários marcados pelo funcionário ou de que existem subrotinas ou programas internos que permitem o desconhecimento do horário real de trabalho do profissional, documentos e equipamentos da empresa deverão ser recolhidos, testemunhas serão ouvidas e demais técnicas necessárias serão adotadas para comprovação do ato ilícito, com a empresa enquadrando-se na situação de passividade de multa e de ação trabalhista, correndo o risco de ter de ressarcir seus colaboradores prejudicados por falta de pagamento de horas extras, sobrejornadas ou que forem obrigados a simular sua saída do trabalho em um horário que não é o real.
Para acessar a Portaria 1.510, de 21 de Agosto de 2009 na íntegra, clique aqui.

Fora, Temer!