Lovelock & Wright (2006, p. 5) consideram
que a definição do conceito de serviços não é fácil, devido à diversidade de
suas atividades e ao processo de produção de resultados intangíveis que os
caracteriza; porém, o definem como ato ou desempenho oferecido que pode estar
ligado a produto físico, mas com desempenho essencialmente intangível e
normalmente sem resultar em propriedade de nenhum dos fatores de produção,
caracterizando-se como atividades econômicas que criam valor e fornecem
benefícios para clientes em momentos e lugares específicos. Essa definição tem
origem na diferenciação entre serviços e bens, e considera que os produtos dos
serviços são realizações intangíveis, embora o pacote de serviços apresente
componentes físicos que podem ser utilizados durante o processo de produção e
entrega de resultados (LOVELOCK; WRIGHT, 2006, p. 17).
Johnston & Clark (2010, p. 28) dizem que
o conceito de serviços também pode ser visto sob a perspectiva do cliente sobreposta
à perspectiva da operação. Assim, o cliente considera serviço como o pacote que
recebe, no qual estão contidas suas expectativas e a experiência direta, muitas
vezes única. Por outro lado, as operações administram os serviços como o
processo de input (entrada de
recursos) - transformação - output (resultados),
constituído por duas partes: a linha de frente, ou front office, responsável pela entrega e contato direto com o
cliente, e a retaguarda, ou back room,
responsável pelas atividades de apoio.
Serviços também se caracterizam pelo maior
envolvimento do cliente no processo de produção e pela maior região de contato
que há entre a empresa prestadora do serviço e as pessoas que recebem seus
resultados, além de apresentarem variabilidade em suas entregas (LOVELOCK;
WRIGHT, 2006, p. 18-9). Assim, por terem a característica de serem consumidos
de forma simultânea à produção e pela natureza da operação que realizam,
serviços têm padronização e controle menores e mais difíceis de serem
alcançados, variando, portanto, de acordo com o cliente atendido, com a pessoa
que presta o serviço ou com o momento em que o serviço é executado. Ademais,
ocorre maior dificuldade de avaliação dos serviços pelos clientes, que os
avaliam utilizando aspectos subjetivos, como a confiança transmitida ou a
experiência vivida durante sua prestação.
Os
serviços participam da economia mundial desde a Antiguidade Clássica – como na
educação dos jovens atenienses, por exemplo –, mas essa participação era
marginal se comparada à agricultura, principal atividade econômica da época
(CORRÊA; CAON, 2008, p. 23). Embora tenha adquirido importância em alguns
países como Portugal, por exemplo, durante o período da baixa Idade Média,
quando os serviços de navegação obtiveram grande importância devido ao comércio
de especiarias e tecidos adquiridos no Oriente, o setor de serviços, que teve
sua importância reduzida na economia mundial entre a primeira Revolução
Industrial, no século XVIII, e o limiar do século XX, apenas assumiu maior
importância econômica e global nas últimas décadas, ao adquirir maior
participação na produção e circulação de riqueza mundial e apresentar-se como
parcela mais dinâmica da economia, sendo responsável pela maior parte do
crescimento de empregos nos diversos países do mundo (LOVELOCK; WRIGHT, 2006,
p. 5), inclusive no Brasil, como demonstra o Gráfico 1, que compara o número de
admissões do setor de serviços no Brasil durante o primeiro semestre de 2011 em
relação aos outros três setores mais representativos no mercado de trabalho
brasileiro.
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Gráfico 1 Evolução da admissão em empregos formais - 1º sem/2011
FONTE: MTE/CAGED, 2011
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Segundo
dados da CNS - Confederação Nacional de Serviços (2011, p. 1), o setor de
serviços representou 67,4% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro no ano de
2010, e apresentou 4,0% de aumento no PIB do primeiro trimestre de 2011, se
comparado ao mesmo período do ano anterior. Essa realidade, que, segundo
Lovelock & Wright (2006, p. 6), tem relação direta com o desenvolvimento da
economia e a elevação da renda per capita
no tempo, passou a ser construída a partir de transformações político-sociais e
tecnológicas, como a urbanização e as mudanças demográficas, por exemplo, que
impulsionaram as empresas ao estado contínuo de mudanças e ampliação da
diversidade de serviços oferecidos para alcançar satisfação das necessidades de
seus clientes, que se tornaram mais exigentes por
causa do maior acesso que o desenvolvimento da Tecnologia da Informação (TI)
lhes deu a bens, serviços e informações (CORRÊA; CAON, 2008, p. 24).
Além
disso, algumas atividades exercidas como apoio à criação de diferencial
competitivo ou suporte às atividades principais de outros setores da economia,
dentre elas as atividades de recrutamento e seleção ou de assistência jurídica,
por exemplo, também podem ser classificadas como serviços, embora não sejam
consideradas como tal nas estatísticas governamentais (CORRÊA; CAON, 2008, p.
25). Assim, essa parcela de serviços, classificada como serviços internos, além de exercer papel importante no desempenho
desses outros setores da economia, também evidencia a crescente importância dos
serviços como geradores de riqueza e empregos (LOVELOCK; WRIGHT, 2006, p. 7).
Referências
-
CORRÊA,
Henrique L.; CAON, Mauro. Gestão de
serviços: lucratividade por meio de operações e de satisfação dos clientes.
1. ed. 5. reimpr. São Paulo: Atlas, 2006.
JOHNSTON,
Robert; CLARCK, Graham. Administração de
operações de serviço. 1. ed. 4. reimpr. São Paulo: Atlas, 2010.
LOVELOCK, Christopher
H.; WRIGHT, Lauren. Serviços:
marketing e gestão.
1. ed. 7. reimpr. Tradução Cid Knipel Moreira; revisão técnica Mauro Neves
Garcia. São Paulo: Editora Saraiva, 2002.