quarta-feira, 19 de outubro de 2011

As Mulheres, a Economia e a Organização do Trabalho


"Essa moça tá diferente
Já não me conhece mais
Está pra lá de pra frente
Está me passando pra trás
Essa moça tá decidida
A se supermodernizar"

Na atual conjuntura econômica, a mulher está cada vez mais assumindo papel de destaque, seja ocupando cargos que antes eram de exclusividade masculina, seja sendo a direcionadora dos gastos familiares. Essa situação, segundo retrata C. K. Prahalad em seu livro A Riqueza na Base da Pirâmide – Como erradicar a pobreza com o lucro, em que a camada feminina da sociedade se encontra atualmente, está mudando a longa tradição de exclusão e ausência de oportunidades que as mulheres encontravam.
A situação é tão positiva e apresenta tantas perspectivas de evolução que Katty Kay e Claire Shipman escreveram o livro Womenomics- A Tendência Econômica por trás do Sucesso Pessoal e Profissional das Mulheres, em que afirmam que, depois das décadas de 1980 e 1990, em que as mulheres efetuaram tentativas de equipararem-se aos homens no âmbito profissional e social, as mulheres conquistaram respeito suficiente para adaptarem o ambiente de trabalho às suas necessidades. Segundo Prahalad, as mulheres ocupam posição central em qualquer processo de desenvolvimento e são a vanguarda das transformações sociais, embora seu papel na sociedade ainda não esteja articulado em toda sua potencialidade. O autor afirma que as mulheres são empreendedoras responsáveis e, por isso, possuem mais facilidade em poupar e obter crédito, o que explica sucessos de empreendimentos que se baseiam no empreendedorismo feminino, como a Avon e a Tupperware.

Capa do livro de Shipman e Kay

Assim, ficou evidente, nas últimas décadas, a influência feminina como consumidoras e detentoras de capital. Entretanto, pensar que essa importância das mulheres na economia ocorreu somente agora é ignorar fatores históricos. Porém, para defender esse ponto de vista, será necessário verificar as origens da organização do trabalho.
De acordo com Clodomir Santos de Morais, a organização do trabalho é originária na Divisão Natural do Trabalho, uma vez que, nos primórdios da humanidade, havia uma divisão básica do trabalho entre o mais pesado (guerra e caça, por exemplo), exercido pelos homens adultos, e aquele mais leve, executado pelas mulheres, anciãos e crianças. Mas, essa primeira divisão do trabalho não tinha o caráter de Divisão Profissional do Trabalho demonstrado por Engels, que a definiu em três etapas distintas: a diferenciação das tribos de pastores, ocorrida na época da comunidade pré-histórica; o início da produção e utilização do ferro; e a diferenciação do comércio.
Na primeira etapa, era realizado o intercâmbio regular de produtos da economia pastoril por outros, especialmente agrícolas, e havia utilização do gado como dinheiro (daí surge o termo capital, pois, a época, a riqueza era medida pela quantidade de cabeças de gado que se possuía). Na segunda etapa, o trabalho artesanal é separado da agricultura, e ocorre o desenvolvimento das cidades e a separação desta do campo. Por fim, a terceira grande divisão do trabalho, segundo Engels, está baseada no surgimento da profissão de comerciante, que é aquele que atua como mediador da troca das mercadorias produzidas pelas diversas profissões, além de ser o mediador entre a cidade e o campo e das cidades entre si, evidenciando-se como a primeira profissão que não é dedicada à produção. Data desta época o surgimento da moeda cunhada em metal.
Na época da Divisão Natural do Trabalho, a mulher, que permanecia mais tempo no lar, pôde, ao longo de milhares de anos, observar o que acontecia com as sementes dos frutos jogados fora, desenvolvendo, a partir disso, a primitiva técnica agrícola. De forma simultânea, ela também domesticou os animais que aproveitavam as sobras humanas para se alimentarem sem se arriscarem com os predadores das florestas, como, por exemplo, a galinha, o porco, a vaca, o cavalo e o cachorro. Neste momento, toda coleta e caça era propriedade de todos os membros da tribo e, portanto, repartido entre todos, caracterizando o regime conhecido como Comunal Primitivo. Por isso, em épocas de escassez, a tribo se apoiava na primitiva agricultura e criação que a mulher havia desenvolvido.
É nessa época que surgem as principais diferenças entre homens e mulheres, com a mulher sendo responsável pela produção, pela organização dos locais de habitação, e, por isso, terem desenvolvido de forma mais plena suas capacidades de raciocínio e de observação, enquanto os homens, que desenvolviam atividades de caça e de guerra, aperfeiçoaram bem mais sua musculatura, sua destreza corporal e sua força.
Estátua da deusa Ceres no Museu do Louvre em Paris
Esses fatos evidenciam que, em sociedades primitivas, havia predominância do matriarcado, uma vez que a base da economia era a técnica e o trabalho desenvolvido pela mulher. Isso é exemplificado pelo fato de serem escolhidas figuras femininas para representar a divindade da agricultura nas civilizações antigas (em Roma, Ceres, de quem foi originada a palavra cereal; e na Grécia, Deméter, por exemplo). Assim, pode-se afirmar que a mulher não só representa papel de extrema importância para a economia atual, como ocupava esse papel desde o início das primeiras relações econômicas, posto que, ao desenvolver a agricultura e a pecuária, permitiu às diversas sociedades primitivas a base para seus desenvolvimentos.

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