quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Sete homens e o meu destino

“Uma menina me ensinou quase tudo que eu sei
Era quase escravidão, mas ela me tratava como um rei
Ela fazia muitos planos e eu só queira estar ali
Sempre ao lado dela, eu não tinha aonde ir.
Mas que egoísta que eu sou, me esqueci de ajudar
A ela como ela me ajudou...”
(Ainda É Cedo – Legião Urbana)

Na madrugada do dia 28 para o dia 29 de agosto de 2011 tive a oportunidade de assistir o clássico do cinema americano “Sete Homens e um Destino” (The Magnificent Seven, no título em original) e não consegui deixar de fazer um paralelo entre o que percebi de fundo filosófico no filme e algumas especificidades da minha vida. Bem, para começar, primeiro irei contar um pouco sobre o filme e, em seguida, contarei a percepção que tive.
Sete Homens e um Destino foi um filme estadunidense do gênero western lançado em 1960, com duração de 128 minutos e que foi indicado ao Oscar® de melhor trilha sonora de 1961. Dirigido por John Sturges, com roteiro de William Roberts e trilha sonora de Elmer Bernstein, “Sete Homens e um Destino” foi baseado no filme japonês “Os Sete Samurais” (Shichinin no samurai, no original), história inúmeras vezes copiada ou homenageada, podendo-se citar dentre elas a animação “Vida de inseto” (A Bug's Life, no original), e retrata a história de um grupo de aldeões mexicanos que residem em um pequeno vilarejo aterrorizado pelo bando de Calvera, interpretado por Eli Wallach, que frequentemente invade o vilarejo para saquear a produção dos fazendeiros.
Sem armas, dinheiro e qualquer capacidade de revide, os aldeões mexicanos enviam três de seus camponeses em busca de armas e ajuda na fronteira com os E.U.A, onde encontram Chris Adams (Yul Bryner) e Vin (Steve McQueen) em uma situação inusitada: Chris e Vin escoltam o caixão de um índio que estava impedindo de ser enterrado por um grupo de homens armados, que acabam por serem desarmados pelos dois pistoleiros. Impressionados com o fato e após descobrirem que os dois pistoleiros estavam desempregados, os aldeões procuram Chris e lhe contam o motivo de estarem na fronteira. Chris aceita ajudar os camponeses e, oferecendo US$ 20,00 para cada homem, consegue que se juntem a ele mais seis pistoleiros dispostos a defender o vilarejo: Vin, Bernardo O'Reilly (Charles Bronson), Chico (Horst Buchholz), Britt (James Coburn), Lee (Robert Vaughn) e Harry Luck (Brad Dexter).
Ao chegarem ao vilarejo, os sete pistoleiros iniciam o treinamento dos camponeses com as armas, culminando em combates contra o bando de Calvera e (aqui entra o que está por trás de toda a história contada no filme) com suas próprias personalidades. Dos sete pistoleiros, seis já possuem uma longa história de vida na pistolagem, enquanto Chico, o mais novo do grupo, está deslumbrado com o início de sua vida nesse ramo. Entretanto, todos estão fugindo de algo próprio, do que eles na verdade são e, por isso, enfrentam conflitos internos ao perceberem que estão nessa vida por não poderem encarar seus medos e frustrações, terem medo das fraquezas presentes em assumir quem realmente são ou simplesmente por não terem nada que lhes sirva de porto, como uma família, uma casa ou amigos.

O mundo ao seu redor joga teu eu contra você
Te transformando em um robô há anos e anos
O mundo ao seu redor joga teu eu contra você
Te transformando em um robô, manuseando de lá do poder...
(Um Eu Oculto – Raiz Tribal)

Bem, após esse breve comentário sobre o filme chega a parte em que me percebi na história por ele contada. É difícil assumir isso, principalmente aqui e sem saber se o que escrevo reproduz o que é a realidade ou se é mais uma mentira que insisto em pregar para mim mesmo. O fato é que tenho agido da mesma forma que os sete pistoleiros de The Magnificent Seven, pois, nos últimos anos, não apenas as pessoas que convivem comigo me desconhecem em alguns momentos, mas eu mesmo sinto isso. Magoei e decepcionei muita gente nessas últimas primaveras, mudei meu comportamento por querer fugir de um ferimento que sofri lá nos meus 16 anos.
Por ter sido magoado por alguém de quem gostava tanto e pelo fato de que os atos dela não só me machucaram, mas me tornaram motivo de escárnio, deixando-me humilhado, passei a construir um pseudoser que é diferente de quem eu era e realmente sou. Logo, criei uma clivagem semelhante à que Pagès et al retratam nos pescadores da cooperativa descrita no livro “O Poder das Organizações”.
Assim, esse pdeudoser se tornou meu lugar de afirmação viril, de autorrealização e de liberdade sem limites do individualismo, onde eu posso viver, seja na realidade, seja no imaginário, minhas fantasias de dominação, onipotência e possessão. Por outro lado, aquela representação do jovem de 16 anos significa para mim a realidade por excelência, a representação dos meus medos e da dependência infantil a um amor, aos meus amigos e às demais pessoas importantes. E, por meio dessas contradições inconscientes, me tornei um anarco-desejante, virei orgulhoso, desprendido das coisas, de Deus e das pessoas, passei a me sentir melhor do que os outros e fugir de tudo aquilo que me deixa mais próximo de voltar a ser aquele garoto que acreditava em amor eterno, em união sem traição ou interesses escusos, em sexo apenas por simples e puro amor.
Como diz uma fala de um dos personagens do filme que inspirou esse texto, passei a ser um desertor escondido no campo de batalha, pois desisti de muitas das coisas que acreditava há quase dez anos atrás para entrar nesse jogo para o qual fui empurrado ou eu mesmo me empurrei (nessa dúvida a primeira opção é mais “terna” e desejada por mim, porém não sei se estou pregando uma peça em mim mesmo e outra vez acreditando em minhas mentiras).
Assim, deixei de acreditar em verdades que sei que são incontestáveis: não acredito mais que flores possam alegrar mulheres e também não acredito que eu possa ser de apenas uma mulher. Criei vícios (mulheres, álcool e otras cositas más que hoje já perderam seu brilho e não me fazem mais pular carnaval) e virei um Gainsbourg menos sedutor e genial.
Hoje, estou com medo do que está vindo pela frente e não sei se vou conseguir assumir e voltar a ser quem sou, como Chico, que desiste de seguir seus companheiros e assume sua condição de camponês ao ficar para deitar todas as noites sobre o seio de sua bela aldeã Petra. Também não sei se vou seguir nessa minha fuga de mim mesmo, como Chris e Vin ao saírem da aldeia montados em seus cavalos, ou se vou morrer mentindo para mim mesmo e pedindo para que os outros repitam minha mentira enquanto agonizo, como Harry Luck pediu a Chris enquanto sua vida ia embora pelo ferimento que a bala fez em seu corpo. Enfim, não sei qual desses sete homens serei e nem sei se meu destino terá pelo menos a fortuna de ser igual a esse lindo pôr-do-sol desse “Piratas do Caribe” que agora está passando na Tela Quente, mesmo que seja assim... afundando!

Texto escrito em 29/8/2011

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