domingo, 13 de dezembro de 2009

Resenha Memórias Póstumas de Brás Cubas



“Que Stendhal confessasse haver escrito um de seus livros para cem leitores, coisa é que admira e consterna. O que não admira, nem provavelmente consternará é se este outro livro não tiver os cem leitores de Stendhal, nem cinqüenta, nem vinte e, quando muito, dez. Dez? Talvez cinco.”
(Machado de Assis)

Nome do Livro: Memórias Póstumas de Brás Cubas
Publicação: 1880
Autor: Joaquim Maria Machado de Assis (1839-1908) nasceu no Morro do Livramento, no Rio de Janeiro. Filho de mulato em uma sociedade escravocrata, Machado de Assis foi autodidata. Aos 15 anos, começou a trabalhar em uma tipografia, o que possibilitou conhecer escritores importantes, abrindo-lhe caminho para a carreira literária. Sua primeira publicação foi um poema na revista Marmota Fluminense, em 1855. Logo após, torna-se burocrata, galgando cargos até conquistar a posição de Ministro substituto. Entretanto, tal carreira era mantida apenas para ganhar o sustento que o possibilitava escrever. Foi um dos principais responsáveis pela fundação da Academia Brasileira de Letras, em 1896, da qual é eleito presidente vitalício. Consagrado como o maior escritor brasileiro, é enterrado com pompa no Rio de Janeiro em 1908, quatro anos após a morte de sua esposa, a portuguesa Carolina Augusta Xavier de Novais. Suas obras são carregadas de ironia e sarcasmo, pessimismo e ceticismo, contribuição das experiências vividas (como o grave preconceito racial da família de sua esposa), da gagueira e da saúde precária que viveu a partir dos 40 anos, quando se agravou a epilepsia.
Preço: o livro pode ser encontrado numa faixa de preço que compreende, em média, R$ 7,00 à R$ 70,00, dependendo da editora ou do formato do livro, podendo também ser adquirido no formato PDF e gratuitamente no site Domínio Público, do Ministério da Educação (MEC).

Primeiro livro que li de Machado de Assis, Memórias Póstumas de Brás Cubas foi seu quinto romance e marca a transição que o autor realizou do Romantismo inicial de sua carreira, recheado de fantasias e inconstâncias, para o Realismo, sendo considerado por muitos a obra que introduziu essa nova escola literária no Brasil. A partir desse romance, Machado assume a postura que o caracterizaria no plano literário, tornando-se crítico sagaz da Sociedade em que vivera e surpreendendo o público e a crítica literária da época, causando, como resposta à ousadia apresentada na obra, um silêncio frente ao livro e sua difícil classificação entre os estilos literários até então existentes. Aliás, a ousadia de Memórias gerou uma falta de interesse do público, sobretudo o feminino que o lia em revistas, e uma reação de boicote por parte da crítica, que supervalorizava obras de menor qualidade literária para, assim, ofuscar a história de Brás Cubas, o defunto-autor de Memórias Póstumas. Tal reação se exemplifica no fato de que entre a 1ª e 2ª edição do livro transcorreram 15 anos (1880-1896).
Memórias Póstumas foi publicado originalmente como uma série de folhetins na Revista Brasileira em 1880, transformando-se, no ano seguinte, em um livro com correções realizadas por Machado. O livro é todo escrito em primeira pessoa e apresenta a biografia de Brás Cubas, que decide contar sua história de forma franca e isenta diretamente do túmulo, tornando-se um defunto-autor, como o próprio se apresenta no primeiro capítulo (Óbito do Autor). O humor negro e a ironia perpassam todos os capítulos do livro, inclusive o prólogo e dedicatória, pois, de acordo com o autor, Brás Cubas é particular por possuir rabugens de pessimismo.
A obra possui o poder de incluir o leitor na história, dando-lhe vida e contornos no texto, por vezes subestimando seu entendimento e inteligência e, por outras, o convidando a refletir. Agressivo, Machado de Assis utiliza recursos narrativos e gráficos inusitados, como capítulos curtos e até em brancos, que quebram o ritmo da narrativa e convidam à reflexão, ou o embaralhamento da ordem cronológica dos capítulos, associados a uma inteligência e ironia que corta a carne do leitor, mas que também o surpreende a cada página e o prende a cada linha lida. Suas palavras buscam deslocar o foco de interesse do romance tradicional, colocando a forma como seus personagens veem e sentem as circunstâncias em que vivem em primeiro plano, caracterizando o interior das personagens e apresentando suas contradições e problemáticas existenciais, estilo de escrita conhecido como romance psicológico.
Em sua abertura, o livro apresenta uma dedicatória escrita sob a forma de um epitáfio, que dá início a apresentação do inusitado autor do livro, Brás Cubas, e já traz um pouco do humor negro e cético que irá caracterizar a obra. Brás Cubas, conhecido entre os críticos literários como “o grande hipócrita da Literatura brasileira”, é um homem que passou a vida sem conquistar nenhuma realização (como se conclui no capítulo final Das Negativas), sem possuir objetivos definidos e apresenta-se como um turbilhão de contradições éticas, comportamentais e sentimentais. Quando criança fora criado com privilégios e proteção, mas, ao atingir a juventude, mostra-se irresponsável, sempre buscando tirar vantagem de tudo e adquirir poder. Na maturidade, consegue um cargo público e busca notoriedade e respeitabilidade ao querer tornar-se ministro, numa tentativa de compensar a existência sem nada de notável, exemplificada na falta de filhos, no desconhecimento do casamento, em não ter sido ministro e em não ter alcançado a celebridade com a invenção do emplasto, última tentativa de perpetuar seu nome entre os homens, “acima da ciência e da riqueza”.
Além da personagem principal, personagens secundárias também são apresentadas durante o livro, surgindo e desaparecendo sem uma ordem estabelecida, pois acompanham os pensamentos de Brás Cubas e a importância que este dá para os fatos e as pessoas. Dentre elas destacam-se Marcela, Eugênia, Virgília, sua irmã Sabina e Quincas Borba. Marcela foi sua primeira paixão da adolescência, aos 17 anos, e, como Brás gastava excessivamente presenteando-a, seu pai o obriga a estudar Direito em Coimbra, Portugal, retornando ao Brasil devido a doença e morte da mãe, seu primeiro contato com o dilema da Vida e da Morte. Mas na frente, Brás reencontra Marcela, velha e doente, e põe-se a refletir sobre a passagem do tempo, utilizando para tanto o que chamava teoria das edições da vida, anunciada nos primeiros capítulos. Eugênia era a filha de uma amiga pobre da família, a qual Brás Cubas namorou enquanto o pai procurava arranjar um casamento de interesse com Virgília, filha do Conselheiro Dutra, um influente político. Entretanto, Virgília casa-se com Lobo Neves e posteriormente se torna amante de Brás, sendo uma das três senhoras que este relata terem visto-lhe morrer, junto à Sabina, sua irmã, com a qual Brás Cubas teve uma desavença devido a divisão da herança deixada pelo pai, e sua sobrinha, filha de Sabina com Cotrim. 
Já Quincas Borba é considerado a personagem secundária em Memórias Póstumas que mais importância teria na obra de Machado de Assis que se seguiria, tanto que torna-se personagem-título para outra obra, publicada em 1891. Amigo dos tempos de escola, Quincas Borba e Brás reencontram-se anos depois, ocasião na qual Quincas lhe apresenta uma doutrina filosófica que criara, o Humanitismo. Quincas é um mendigo que vai enlouquecendo progressivamente, morrendo completamente fora de si. Sua doutrina pregava que tudo o que acontece na vida faz parte de um quadro maior de preservação da essência humana, artifício irônico utilizado por Machado ao fazer que uma doutrina de valorização da Vida seja defendida por um mendigo louco. Brás encontra na teoria do amigo justificativas para sua existência vazia, iludindo-se com a descoberta de um sentido para a vida, até perceber que Quincas Borba está enlouquecendo progressivamente.
Brás Cubas morre aos 64 anos, após adoecer por conta da idéia fixa de inventar um emplasto anti-hipocondríaco que levaria seu nome, tornando-o famoso. Após sua morte, decide contar sua vida em detalhes, seguindo a lógica de seu pensamento, devido sua falta de sistematização das ideias e a excitação ainda presente pelo o fato de estar morto. Enfim, Memórias Póstumas é uma obra feita para compreender através das reflexões da personagem que brinca com a ordem cronológica das narrativas, um marco da literatura brasileira que apresenta todo o talento daquele que foi o maior expoente das letras no Brasil.

Faça o download do livro gratuitamente AQUI.

6 comentários:

Stella disse...

Égua, não gostei. A Marcela só se f...nessa estória, rsrsrs... Sou mais "O Pequeno Principe". =P

Stella disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Amarildo Ferreira disse...

Rsrsrsrsr! Vou aproveitar o conselho e comprar "O Pequeno Príncipe" pra publicar uma postagem sobre ele. Aliás, já até li alguns trechos dele e achei muito bom: nos faz refletir sobre a importância de não deixar nossa infância morrer por completo! Abraços e obrigado pelo prestígio!

Anônimo disse...

Il semble que vous soyez un expert dans ce domaine, vos remarques sont tres interessantes, merci.

- Daniel

Amarildo Ferreira disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Amarildo Ferreira disse...

Daniel,
Queria ter o seu e-mail ou outra tipo de forma de comunicação para poder lhe agradecer de pessoalmente. Infelizmente como não tenho, agradeço por aqui mesmo. Obrigado!

Fora, Temer!