quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Faculdade Ideal promove palestra para explicar características da Crise Mundial.


Evento: “Centro Acadêmico Discute: A Crise Mundial e seus impactos para as organizações
Palestrante: Prof. Mestre e Dr. em Economia e Secretário de Estado da Fazenda/PA José Raimundo Barreto Trindade
Local: Auditório FACI II Data: 28/10/2008


O Centro Acadêmico de Administração da Faculdade Ideal, juntamente com outros colaboradores, promoveu o evento acima citado com o objetivo de esclarecer dúvidas que eventualmente surgiram na Faculdade sobre a atual crise mundial. Assim, o palestrante inicia suas colocações, sob o título de “Crise Financeira - Anatomia de uma Crise típica”, relatando que estamos vivenciando um momento de interrogações, uma busca de entendimentos, onde não podemos ter idéias fixas, e sim compreender a situação a partir de determinadas assertivas sem utilizarmos explicações determinísticas. Assim, Trindade nos apresenta dois modelos teóricos que propõem nos ajudar a entendermos como ocorre uma crise e como esta vem a se estruturar: um modelo neomarxista, inspirado no livro III de O Capital, e o Modelo de Crise de Crédito, formulado por Henry Minsk. Tais modelos utilizados nos mostram que não podemos analisar o sistema capitalista sem considerar que este, comparativamente a um organismo vivo, apresenta momentos de normalidade ou crescimento e momentos de crise, sendo, portanto, um processo cíclico. Assim, sendo um processo, apresenta etapas, que, neste caso, são o boom (auge dos negócios e inicio do processo de declínio) e crash (a “quebra“ da economia, ou seja, a crise em si) e são necessárias para uma revolução na engrenagem econômica.
Ora, se o capitalismo é um processo cíclico, onde as depressões formam uma de suas etapas, qual o motivo de tanto alarde com a crise atual se já passamos por muitas outras e sobrevivemos? Segundo o palestrante, isto se dá apenas pelo fato de que as que outrora passamos eram mais periódicas, ao passo que no século atual as crises são mais desritmadas. Outro fator que deixa de sobreaviso a maioria dos especialistas no assunto, e mais ainda a Sociedade, é o fato de que esta crise surge num país do “centro”, alcançando de forma avassaladora outras nações do globo. Entretanto, não devemos considerar esta crise como “A Crise”, pois para tanto ela teria que desestruturar completamente o Capitalismo, o que acredita-se que não ocorrerá. O palestrante ressalta, utilizando-se da Teoria do Desenvolvimento Econômico de Schumpeter (1911), que as crises são sistemas de aprendizagem do Capitalismo, que se regenera e fortalece após estas, mesmo sem salvar todos seus componentes, pois é característica de qualquer crise a destruição, fragmentação e absorção por outras organizações de algumas instituições. Mas, como ocorre este aprendizado e consequente fortalecimento do capitalismo? Trindade cita a chamada Destruição Criativa, um dos elementos centrais das crises, onde os estragos causados por uma crise abrem espaços para o surgimento de empresas mais estruturadas, impulsiona um desenvolvimento tecnológico, desperta novas oportunidades e cria mecanismos de regulação da economia mais eficazes, provocando uma queda no ritmo das crises. Assim sendo, como teve inicio essa crise? Para isso, devemos entender como funciona o sistema de crédito, principal afetado, e quais fatores provocam sua quebra.
Trindade explica que este sistema funciona com títulos especulativos servindo de base para o surgimento de uma massa crescente de capital fictício, um boom de crédito bancário, formada principalmente por títulos de ações (base de confiança das empresas) e títulos da dívida pública (créditos cedidos ao Estado). Quando ocorre um rompimento de um dos elos dessa corrente, ocorre uma reação em cadeia (overtrading specullation), desestruturando todo o sistema crediário, pois há uma diminuição da emissão de financiamento e outros tipos de crédito devido um aumento do risco moral desse tipo de transação, certo receio às inadimplências. Isto afeta diretamente a principal função desse sistema: financiar as empresas (que, em alguns casos, até podem se autofinanciar, mas não o devem para garantir um grande capital de giro e evitar a escassez de crédito) e o Estado, e recomprar títulos no mercado secundário. Com esta quebra, criam-se situações propensas para uma crise de produção, pois, devido uma necessidade de liquidez e uma depreciação do capital mais acelerada, as empresas são estimuladas a deixarem de produzir para evitar perdas. Assim, as empresas responsáveis por produção de maquinários para produção são as primeiras a sentirem o efeito da crise, retraindo-se por requererem muito crédito, seguidas das empresas de manufatura que, por falta de capital de reposição, fecham o ciclo. Logo, conclui-se que uma crise desse tipo destrói capitais especulativos e produtivos. Assim sendo, como a crise atual está estruturada?
Trindade explica que a crise atual é uma típica crise de crédito. Ela surge nos EUA, com os títulos hipotecários (subprime) servindo como base para erguer diversos outros títulos especulativos, formando sua cadeia de capital fictício. Com a baixa regulação da economia americana, surgida com o neoliberalismo do final da década passada e no decorrer da atual, houve uma quebra no centro dessa cadeia, o que fez desabar a estrutura de créditos americana. Com isso, os bancos passam a ser muito mais seletivos na liberação de financiamentos e empréstimos, o que retira investimentos econômicos, impossibilitando um aumento e até manutenção da produção, fazendo com que empresas quebrem, aumentando o nível de desemprego e ocasionando um efeito cascata. Ora, como a economia americana está estreitamente ligada a outras economias do globo, isto afeta outros países ocasionando uma ação em cadeia. Assim, como o Brasil está interligado com a economia e o comércio mundial, este também é afetado, principalmente com a queda do preço de commodities. Entretanto, os efeitos da crise em nossa economia são atenuados devido o mercado interno ainda está aquecido, o Brasil ter uma baixa exposição fiscal, possuir reservas, ter uma economia mais regulada do que a americana e europeia, ter o capital especulativo mais concentrado e possuir um sistema de crédito menor em relação aos países centrais.
Assim, considero que o evento ajudou a entendermos porque o sistema capitalista passa por momentos de depressão, que tais momentos são uma forma do Capitalismo se realinhar e aperfeiçoar, fortalecendo-se e aumentando seu nível de organização e regulação, esclareceu as consequências que esta crise, em particular, trará para a economia mundial e que, paradoxalmente, está no inicio, mas possivelmente já encaminha-se para um fim. Entretanto, considerei que houve um esclarecimento superficial sobre como as organizações serão afetadas, contudo isto não afetou a qualidade de tudo que foi exposto e já nos deu um conhecimento prévio para analisarmos mais a fundo este aspecto.

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