*Versão com ligeiras modificações do texto que publiquei na edição de hoje (09/10/10) do jornal Diário do Pará (Caderno Cidade, Espaço do Leitor, p. A2), que vocês podem conferir ao final desta postagem.
Época de festa e de celebração
cultural-religiosa, o Círio de Nazaré também é a época em que os Brinquedos de
Miriti de Abaetetuba trasladam-se para a capital para colorirem as ruas e
integrarem a estrutura extralitúrgica da festividade. Segundo o consenso
histórico, tal artesanato-artístico está presente desde o primeiro Círio, em
1793, quando ocorreu a “Feira de Produtos Regionais da Lavoura e da Indústria”
no local onde hoje é a Praça Santuário e que foi o embrião do que atualmente é o
Arraial de Nossa Senhora de Nazaré. Em todos esses anos, a relação que esses
brinquedos que deixam nossos olhos em festa mantêm com nossa magna celebração cultural-religiosa
só aumentou, tendo propiciado a criação de feira própria.
Inicialmente na Praça do Carmo, local
onde se deram os primeiros ajuntamentos espontâneos dos artesãos de miriti e
suas girândolas durante a quadra nazarena, a feira já ocorreu também na Praça
da Sé e, posteriormente, na Praça Waldemar Henrique, onde permaneceu por muito
tempo, até ser transferida para a Praça D. Pedro II no ano passado, após separar-se
da feira que o Sebrae ainda mantém na antiga Praça Kennedy.
A Feira do Artesanato de Miriti deste
ano será inaugurada às 18h00 desta quinta-feira que antecede o Círio, após
Cerimônia de Abertura na Catedral da Sé. Com a temática “Girândolas de Abaeté
no Círio de Nazaré”, está sendo realizada pelo esforço conjunto dos artesãos de
miriti, por meio da Associação dos Artesãos de Brinquedos e Artesanatos de
Miriti (Asamab), com recursos obtidos por meio de emenda parlamentar com
execução da superintendência estadual do Iphan. Segundo estimativas da Asamab e
da Emater, só durante o Círio de Nazaré o artesanato de miriti movimenta cerca
de 200 artesãos, gera trabalho para um número entre 600 e 800 pessoas em 38
comunidades rurais e urbanas de Abaetetuba, e comercializa em torno de 400 mil
peças, gerando uma renda situada entre R$ 2 e R$ 4 milhões. Além disso, essa
atividade ainda contribui para a preservação do miriti e de essências florestais
em uma área com cerca de 800 hectares.
Mesmo assim, falta coerência do Governo
do Estado em suas políticas voltadas à cultura, pois seria sensato que
garantisse em seus próximos orçamentos recursos destinados para a valorização desse
tipo de artesanato tão particular, uma vez que mesmo com seu reconhecimento
como Patrimônio Cultural de Natureza Imaterial do Estado do Pará por meio de
duas leis (Lei n.º 7.282/2009, para o MiritiFestival; e Lei n.º 7.433/2010,
para os Brinquedos de Miriti), parece-nos que é considerado mais útil como
ilustração de algumas das propagandas oficiais do que como expressão cultural
com vastas importâncias sociais e econômicas para o Estado. E isso deve se
estender também aos outros patrimônios culturais que o Estado reconheceu.
Afinal, qual é a lógica das políticas culturais estaduais para tais
patrimônios?
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