quinta-feira, 9 de outubro de 2014

A Feira do Miriti na Festa do Círio*

*Versão com ligeiras modificações do texto que publiquei na edição de hoje (09/10/10) do jornal Diário do Pará (Caderno Cidade, Espaço do Leitor, p. A2), que vocês podem conferir ao final desta postagem.
 
Foto de Amarildo Ferreira Júnior
Foto de Amarildo Ferreira Júnior (2014)
Época de festa e de celebração cultural-religiosa, o Círio de Nazaré também é a época em que os Brinquedos de Miriti de Abaetetuba trasladam-se para a capital para colorirem as ruas e integrarem a estrutura extralitúrgica da festividade. Segundo o consenso histórico, tal artesanato-artístico está presente desde o primeiro Círio, em 1793, quando ocorreu a “Feira de Produtos Regionais da Lavoura e da Indústria” no local onde hoje é a Praça Santuário e que foi o embrião do que atualmente é o Arraial de Nossa Senhora de Nazaré. Em todos esses anos, a relação que esses brinquedos que deixam nossos olhos em festa mantêm com nossa magna celebração cultural-religiosa só aumentou, tendo propiciado a criação de feira própria.
Inicialmente na Praça do Carmo, local onde se deram os primeiros ajuntamentos espontâneos dos artesãos de miriti e suas girândolas durante a quadra nazarena, a feira já ocorreu também na Praça da Sé e, posteriormente, na Praça Waldemar Henrique, onde permaneceu por muito tempo, até ser transferida para a Praça D. Pedro II no ano passado, após separar-se da feira que o Sebrae ainda mantém na antiga Praça Kennedy.
A Feira do Artesanato de Miriti deste ano será inaugurada às 18h00 desta quinta-feira que antecede o Círio, após Cerimônia de Abertura na Catedral da Sé. Com a temática “Girândolas de Abaeté no Círio de Nazaré”, está sendo realizada pelo esforço conjunto dos artesãos de miriti, por meio da Associação dos Artesãos de Brinquedos e Artesanatos de Miriti (Asamab), com recursos obtidos por meio de emenda parlamentar com execução da superintendência estadual do Iphan. Segundo estimativas da Asamab e da Emater, só durante o Círio de Nazaré o artesanato de miriti movimenta cerca de 200 artesãos, gera trabalho para um número entre 600 e 800 pessoas em 38 comunidades rurais e urbanas de Abaetetuba, e comercializa em torno de 400 mil peças, gerando uma renda situada entre R$ 2 e R$ 4 milhões. Além disso, essa atividade ainda contribui para a preservação do miriti e de essências florestais em uma área com cerca de 800 hectares.
Mesmo assim, falta coerência do Governo do Estado em suas políticas voltadas à cultura, pois seria sensato que garantisse em seus próximos orçamentos recursos destinados para a valorização desse tipo de artesanato tão particular, uma vez que mesmo com seu reconhecimento como Patrimônio Cultural de Natureza Imaterial do Estado do Pará por meio de duas leis (Lei n.º 7.282/2009, para o MiritiFestival; e Lei n.º 7.433/2010, para os Brinquedos de Miriti), parece-nos que é considerado mais útil como ilustração de algumas das propagandas oficiais do que como expressão cultural com vastas importâncias sociais e econômicas para o Estado. E isso deve se estender também aos outros patrimônios culturais que o Estado reconheceu. Afinal, qual é a lógica das políticas culturais estaduais para tais patrimônios?

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