Uma antiga novela épica chinesa conta a história de um símio nascido de uma rocha mística formada pelas forças primitivas do caos, na Montanha das Flores e Frutas. Aqui se encontram suas 72 facetas!
Ontem
o povo do Pará foi às urnas e decidiu em plebiscito pela não divisão do
Estado! Meu voto também foi nesse sentido, mas, passada a eleição,
devemos ponderar sobre alguns fatores. Considero justa e legítima a
vontade do POVO das regiões separatistas, posto que tais regiões estão
abandonadas pelo poder público. Entretanto, não vejo a divisão como
solução, uma vez que foi proposta por oportunistas políticos que queriam
se aproveitar do abandono presente nas regiões separatistas para
obtenção de maior parcela de poder. Convém citar que os propusentes dos
projetos de lei a favor da divisão do Estado nem eram paraenses (o
principal marketeiro deles, por exemplo, foi Duda Mendonça, baiano que
foi contra a divisão de seu Estado, mas é a favor da divisão do nosso por
ter terras em solos papa-xibés e que, portanto, se beneficiaria
política, financeira e economicamente com a divisão), e são os mesmos
pecuaristas, fazendeiros, grileiros e afins que lucram sobre a
exploração de nossas terras, desmantando-as e ocasionando diversos
outros fatores, como a deprimente posição do Pará como Estado brasileiro
que possui maior número de trabalhadores em condições de trabalho
escravo.
Além disso, percebe-se, nessa situação, manobra política análoga à
que Sarney fez ao transferir seu domicílio eleitoral para o Amapá,
transformando esse nosso vizinho em surcusal do Maranhão, estado em que o
coronel manda e desmanda e que figura como herança no testamento do Don Corleone tupiniquim. O caso é
que, pelo menos de acordo com a análise que fiz e que me levou a votar
pelo NÃO, tais políticos vislumbraram a chance de, com a divisão do
Pará, passar a ocupar melhores posições políticas e econômicas no
decaído sistema sociopolítico brasileiro. Outro ponto importante, é que
essa realidade de abandono não é exclusividade das regiões separatistas
(em que pese ser mais representativa nessas áreas): basta caminhar por
alguns bairros aqui da capital e presenciar o abandono, dentre eles
posso citar a Vila da Barca, algumas regiões da Santissíma Trindade (Jurunas,
Guamá e Terra Firme), o Benguí, o Parque Verde, etc.
Tudo isso que abordei não foi apenas
para justificar meu voto contrário à divisão, mas também para
parabenizar o povo paraense por não deixar esse esquartejamento
acontecer, e, sobretudo, para deixar claro que não se pode ficar dessa
forma e que foi válida a discussão gerada pelo plebiscito para que as
autoridades possam refletir sobre seus modelos de gestão, que excluem a
maioria para benefício de minorias.
Para que ocorra a melhoria
desejada, é necessário não somente que a gestão administrativa seja
repensada, mas a própria postura da população seja reformulada,
passando-se a votar com maior consciência, distanciando do poder políticos corruptos e oportunistas e fiscalizando e cobrando daqueles que forem eleitos melhores ações para o povo, não ficando calados enquanto a
Alepa, por exemplo, aprova lei que aumenta prazo de permanência de temporários, numa manobra descarada de garantir preenchimento de cargos
por cabos eleitorais que nada contribuem para o engradecimento do
Estado.
Por fim, deve-se também ficar atento para os rancores gerados
pelo plebiscito, que pode ocasionar maiores distanciamentos de
identidade cultural, e que, portanto, devem ser bem administrados para
evitar que o Pará possa se tornar ingovernável tão somente por mágoas
de coroneis locais que se viram distanciados da tão almejada fatia de
poder, além de analisar outras propostas que já estão no nascedouro,
como de possível novo plebiscito e, dessa vez, com peso de voto
diferente para os eleitores das regiões separatistas como forma de
compensar a baixa densidade demográfica dessas áreas.
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