quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Relato da palestra de abertura da Semana Acadêmica de Administração realizada pela Faculdade Ideal com o tema Administrador Social.


Evento: Palestra “Políticas Públicas, Desenvolvimento Social e Empresarial”
Palestrante: Prof. Dr. em Economia Francisco Marcelo Garritano Barone (EBAPE/FGV)
Local: Auditório FACI II Data: 23/9/2008

O evento a ser relatado marcou o inicio da IX Semana Acadêmica de Administração da Faculdade Ideal e, como é de praxe, teve entre suas solenidades pronunciamentos dos organizadores do evento, do Diretor Geral da Mantenedora da Instituição, Prof. Manoel Leite, e do Diretor Geral do Grupo Educacional Ideal, Prof. João Messias. O palestrante Francisco Barone iniciou sua palestra explicando-nos que a economia é dinâmica e mutável, citando a crise americana e a intervenção estatal nesta como forma de entendermos que, apesar das depressões que sofre, o sistema capitalista recompõe-se ao longo do tempo, surgindo assim novos regimes dentro do mesmo sistema econômico. Para exemplificar, lembrou a intervenção do governo Fernando Henrique no setor bancário no inicio do Plano Real para evitar um colapso do sistema financeiro brasileiro, ressaltando que, embora à época tenha parecido para alguns um mau negócio, tal medida, análoga a adotada nos Estados Unidos, evitou a desestruturação da economia brasileira e ainda resultou em títulos cambiais às partes envolvidas. Em seguida, Barone citou o que ele considera questões importantes para os novos administradores, tais como buscar ser um profissional com diferencial, capacitado para assumir seu papel no desenvolvimento do país, sabendo promover e preservar sua imagem num mundo cada vez mais dinâmico e que cobra uma preparação de qualidade e ininterrupta.
Somente após fazer essa rápida apresentação à Economia e às exigências do Novo Mercado estabelecido, é que Barone começa realmente a ministrar sua palestra, citando Santo Agostinho ao dizer que uma cidade é feita de homens e não de casas e que são esses homens que fazem a diferença nas organizações e, consequentemente, na Sociedade. Ele nos explica que toda organização tem por objetivo a maximização da riqueza de seus acionistas (incluindo-se também nesse conceito organizações públicas, onde os acionistas são os membros da Sociedade que aplicam como “capital” os impostos que pagam e que devem ser revertidos em benefícios da própria Sociedade) e a preservação da riqueza de todos aqueles que influenciam ou são influenciados direta ou indiretamente pela organização, os chamados stakeholders.
Ora, fala-se muito em administrador social, mas o que é esse tipo de administrador e como ele pode ser responsável pelo desenvolvimento do país?
Para entender o papel do administrador nesta nova sociedade, Barone apresenta os oito objetivos de desenvolvimento do Milênio (erradicar a extrema pobreza e a fome; atingir a educação básica universal; promover a igualdade entre os sexos e a valorização da mulher; reduzir a mortalidade infantil; melhorar a saúde materna; combater o HIV/AIDS, a malária e outras doenças; garantir a sustentabilidade ambiental; e estabelecer uma parceria mundial para o desenvolvimento), assumidos por 191 nações, juntamente com dados do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) que nos mostram as situações atuais de tais itens, indagando-nos sobre como atingir essas metas até 2015, prazo estipulado pela Organização das Nações Unidas (ONU). O próprio Barone nos responde que tais metas não serão atingidas plenamente com os modelos de desenvolvimento adotados atualmente, afirmando que a única maneira de atingir tais objetivos dentro do sistema capitalista não é com o perdão das dívidas das nações pobres ou em desenvolvimento pelos países de mercado consolidado e nem com políticas paternalistas por parte do governo, e sim dando capacidade aos indivíduos para desenvolverem atividades produtivas de maneira sustentável. Para o palestrante, isso acontecendo dá ao cidadão uma possibilidade de cuidar melhor de sua saúde e da saúde de sua família, facilita o acesso à educação de qualidade, aquece a economia e cria mais empreendedorismo, gerando um círculo virtuoso, o chamado efeito multiplicador da renda. Mas, de que forma aumentar o acesso da população à atividades produtivas e, ao mesmo tempo, de maneira sustentável?
Barone utiliza a Teoria do Desenvolvimento Econômico formulada por Joseph Schumpeter em 1911 e da Transformação Social proposta pelo Economista C. K. Prahalad para mostrar como isso é possível. Assim, o primeiro prega que o desenvolvimento sustentável só é possível com exploração e materialização de novas oportunidades, concretizando o espírito empreendedor na sociedade, com inovações tecnológicas (a chamada Destruição Criativa, onde as tecnologias criadas tem maior obsolescência para abrir espaço para novas tecnologias), aumentando a facilidade de acesso ao crédito e adaptando as decisões às peculiaridades locais, tendo como foco mulheres, jovens, universitários, empresas jovens e/ou de rápido crescimento); ao passo que o segundo baseia-se na ideia do Capitalismo Inclusivo, no qual deve ocorrer o incentivo do acesso das camadas mais pobres da Sociedade ao consumo, aumentando seu poder de compra com disponibilização de crédito, partindo do pressuposto de que “o pote de ouro está na base da pirâmide social”.
Barone destaca que é o Estado que deve dá suporte ao desenvolvimento, passando a estruturar-se mais para tanto, fornecendo o entorno, como, por exemplo, educação de qualidade, revendo as leis tributárias, “enxugando” o processo de abertura de firmas que, por seu alto grau de morosidade, inibe o desenvolvimento de empresas, e facilitando o acesso dos novos empreendedores ao crédito. Assim, o Estado deve redefinir seu papel, trabalhando com todos seus vetores (municipal, estadual e federal) convergindo a uma mesma direção, amparando e dando suporte para a iniciativa privada gerar riquezas e desenvolvimento, papel inverso ao qual este vem desempenhando, particularmente no Brasil, ao inibir o desenvolvimento do empreendedorismo de forma mais ampla e formal com sua elevada carga tributária (cerca de 40% do PIB), processos de abertura de firma que chegam a durar até 100 dias e a grande dificuldade de acesso ao crédito. Outro ponto colocado foi a possível venda da Amazônia ao capital estrangeiro como solução em potencial, destacando-se que abrir mão da Amazônia é abrir mão da soberania nacional, onde a cabível e única forma possível é aproveitar esse capital externo que tem a Amazônia como porta de entrada para promover o desenvolvimento nacional de forma sustentável, racional e regulado pelo Estado.
Assim, o Estado deve está disposto a assumir seu papel de incentivador do desenvolvimento e o capital privado deve posicionar-se com maior parceria junto ao Governo e a Sociedade, todos conscientes de que tais melhorias são um investimento de longo prazo e que requer planejamento voltado para as necessidades locais, não a absorção de modelos estrangeiros que não se encaixam em nossa realidade, tanto cultural como econômica.

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