terça-feira, 28 de agosto de 2012

Oximoro




Guerra e paz, 1952-1956 - Cândido Portinari (1903-1962)


Somente em meio à clara escuridão
Se é capaz de sentir o calor gelado
Que desce por cima da espinha
No instante eterno
Em que contentamo-nos em sermos descontentes.

Inicia-se, portanto, o fim
Do eloquente silêncio,
Esse ilustre desconhecido,
De tão altíssima baixeza,
A quem a gentileza cruel
Presta-se a espalhar boatos fidedignos
Em meio à nossa mais pacífica guerra.

E por sermos presos em liberdade,
Gritamos em silêncio
Com uma espontaneidade tão precisamente calculada
Que, em meio a mais obscura claridade,
Permanecemos na lucidez louca
De criar os plágios mais originais,
Ricos de pobreza e cheios do vazio
Deixado por nossas lembranças esquecidas.

Eis que chega o sublime momento de assumir nossa inocente culpa
Declarada tacitamente
Pela necessidade de reparar o que é irreparável
Em todas as mentiras sinceras pronunciadas até agora
Por essencialidade do supérfluo.
É então que se percebe, na escura claridade,
Que até o gelo é fervente
Quando se busca a aprendizagem de desaprender.

Assim, chega-se ao fim inicial
De toda eloquência silenciosa
Que recolhe traços loucos de lucidez
Constantes na mais gentil crueldade
Ilusória e presente na realidade
De uma guerra santa
Em que, livres em nossa prisão,
Nosso silêncio só sabe gritar.




O.xi.mo.ro
s.m. 1. Expressão de linguagem
que consiste em reunir
palavras contraditórias; paradoxismo.


Belém/PA, 28 de agosto de 2012

(Dom Aquiles Crowley)

2 comentários:

Anônimo disse...

Fantástico. Cada dia melhor, mais criativo e intenso!
Fico feliz.

:)

Amarildo Ferreira disse...

Eu que fico feliz por saber que alguém gostou. Pelo o conteúdo do comentário, dá pra deduzir que não é a primeira vez aque você passa por aqui. Não sei por que optou por comentar de forma anônima, mas respeito seu posicionamento. Fique à vontade!!! Shiloh!!!!

Fora, Temer!