"Essa moça tá diferente
Já não me conhece mais
Está pra lá de pra frente
Está me passando pra trás
Essa moça tá decidida
A se supermodernizar"
Já não me conhece mais
Está pra lá de pra frente
Está me passando pra trás
Essa moça tá decidida
A se supermodernizar"
Na atual conjuntura econômica, a mulher está
cada vez mais assumindo papel de destaque, seja ocupando cargos que antes eram
de exclusividade masculina, seja sendo a direcionadora dos gastos familiares. Essa
situação, segundo retrata C. K. Prahalad em seu livro A Riqueza na Base da Pirâmide – Como erradicar a pobreza com o lucro,
em que a camada feminina da sociedade se encontra atualmente, está mudando a
longa tradição de exclusão e ausência de oportunidades que as mulheres
encontravam.
A situação é tão positiva
e apresenta tantas perspectivas de evolução que Katty Kay e Claire Shipman escreveram o livro Womenomics- A Tendência Econômica por trás do Sucesso Pessoal e Profissional das Mulheres, em que
afirmam que, depois das décadas de 1980 e 1990, em que as mulheres
efetuaram tentativas de equipararem-se aos homens no âmbito profissional e
social, as mulheres conquistaram respeito suficiente para adaptarem o ambiente
de trabalho às suas necessidades. Segundo Prahalad, as mulheres ocupam posição
central em qualquer processo de desenvolvimento e são a vanguarda das
transformações sociais, embora seu papel na sociedade ainda não esteja
articulado em toda sua potencialidade. O autor afirma que as mulheres são
empreendedoras responsáveis e, por isso, possuem mais facilidade em poupar e
obter crédito, o que explica sucessos de empreendimentos que se baseiam
no empreendedorismo feminino, como a Avon e a Tupperware.
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Capa do livro de Shipman e Kay |
Assim,
ficou evidente, nas últimas décadas, a influência feminina como consumidoras e
detentoras de capital. Entretanto, pensar que essa importância das
mulheres na economia ocorreu somente agora é ignorar fatores históricos. Porém,
para defender esse ponto de vista, será necessário verificar as origens da
organização do trabalho.
De
acordo com Clodomir Santos de Morais, a
organização do trabalho é originária na Divisão Natural do Trabalho, uma vez
que, nos primórdios da humanidade, havia uma divisão básica do trabalho entre o
mais pesado (guerra e caça, por exemplo), exercido pelos homens adultos, e
aquele mais leve, executado pelas mulheres, anciãos e crianças. Mas, essa
primeira divisão do trabalho não tinha o caráter de Divisão Profissional do Trabalho demonstrado por Engels, que a definiu em três etapas distintas: a
diferenciação das tribos de pastores, ocorrida na época da comunidade
pré-histórica; o início da produção e utilização do ferro; e a diferenciação do
comércio.
Na primeira etapa, era realizado o intercâmbio regular
de produtos da economia pastoril por outros, especialmente agrícolas, e havia
utilização do gado como dinheiro (daí surge o termo capital, pois, a época, a
riqueza era medida pela quantidade de cabeças de gado que se possuía). Na segunda
etapa, o trabalho artesanal é separado da agricultura, e ocorre o desenvolvimento
das cidades e a separação desta do campo. Por fim, a terceira grande divisão do
trabalho, segundo Engels, está baseada no surgimento da profissão de
comerciante, que é aquele que atua como mediador da troca das mercadorias
produzidas pelas diversas profissões, além de ser o mediador entre a cidade e o
campo e das cidades entre si, evidenciando-se como a primeira profissão
que não é dedicada à produção. Data desta época o surgimento da moeda cunhada em
metal.
Na época da Divisão Natural do Trabalho, a mulher, que
permanecia mais tempo no lar, pôde, ao longo de milhares de anos, observar o
que acontecia com as sementes dos frutos jogados fora, desenvolvendo, a partir
disso, a primitiva técnica agrícola. De forma simultânea, ela também domesticou
os animais que aproveitavam as sobras humanas para se alimentarem sem se
arriscarem com os predadores das florestas, como, por exemplo, a galinha, o
porco, a vaca, o cavalo e o cachorro. Neste momento, toda coleta e caça era
propriedade de todos os membros da tribo e, portanto, repartido entre todos, caracterizando
o regime conhecido como Comunal Primitivo. Por isso, em épocas de escassez, a
tribo se apoiava na primitiva agricultura e criação que a mulher havia
desenvolvido.
É nessa época que surgem as principais diferenças
entre homens e mulheres, com a mulher sendo responsável pela produção, pela
organização dos locais de habitação, e, por isso, terem desenvolvido de forma
mais plena suas capacidades de raciocínio e de observação, enquanto os homens, que
desenvolviam atividades de caça e de guerra, aperfeiçoaram bem mais sua
musculatura, sua destreza corporal e sua força.
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Estátua da deusa Ceres no Museu do Louvre em Paris |
Esses fatos evidenciam que, em sociedades primitivas,
havia predominância do matriarcado, uma vez que a base da economia era a
técnica e o trabalho desenvolvido pela mulher. Isso é exemplificado pelo fato
de serem escolhidas figuras femininas para representar a divindade da
agricultura nas civilizações antigas (em Roma, Ceres, de quem foi originada a
palavra cereal; e na Grécia, Deméter, por exemplo). Assim, pode-se afirmar que
a mulher não só representa papel de extrema importância para a economia atual,
como ocupava esse papel desde o início das primeiras relações econômicas, posto
que, ao desenvolver a agricultura e a pecuária, permitiu às diversas sociedades
primitivas a base para seus desenvolvimentos.
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