Guerra e paz, 1952-1956 - Cândido Portinari (1903-1962) |
Somente em meio à clara escuridão
Se é capaz de sentir o calor gelado
Que desce por cima da espinha
No instante eterno
Em que contentamo-nos em sermos descontentes.
Inicia-se, portanto, o fim
Do eloquente silêncio,
Esse ilustre desconhecido,
De tão altíssima baixeza,
A quem a gentileza cruel
Presta-se a espalhar boatos fidedignos
Em meio à nossa mais pacífica guerra.
E por sermos presos em liberdade,
Gritamos em silêncio
Com uma espontaneidade tão precisamente calculada
Que, em meio a mais obscura claridade,
Permanecemos na lucidez louca
De criar os plágios mais originais,
Ricos de pobreza e cheios do vazio
Deixado por nossas lembranças esquecidas.
Eis que chega o sublime momento de assumir nossa inocente culpa
Declarada tacitamente
Pela necessidade de reparar o que é irreparável
Em todas as mentiras sinceras pronunciadas até agora
Por essencialidade do supérfluo.
É então que se percebe, na escura claridade,
Que até o gelo é fervente
Quando se busca a aprendizagem de desaprender.
Assim, chega-se ao fim inicial
De toda eloquência silenciosa
Que recolhe traços loucos de lucidez
Constantes na mais gentil crueldade
Ilusória e presente na realidade
De uma guerra santa
Em que, livres em nossa prisão,
Nosso silêncio só sabe gritar.
Nosso silêncio só sabe gritar.
O.xi.mo.ro
s.m. 1. Expressão de linguagem
que consiste em reunir
palavras contraditórias; paradoxismo.